Título: Produção de novembro indica alta de 2% no PIB
Autor: Sergio Lamucci e Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 11/01/2006, Brasil, p. A3

Conjuntura IBGE registra aumento de 0,6% em relação a outubro

O desempenho da indústria em novembro foi decepcionante, indicando que a recuperação da atividade econômica no quarto trimestre foi mais tímida do que se esperava. O IBGE divulgou ontem uma expansão de apenas 0,6% da produção industrial em relação a outubro, na série livre de influências sazonais, bem abaixo das projeções de alta de 0,8% a 1,8%. Com o número de novembro, vários analistas passaram a considerar bastante provável que o PIB tenha registrado um crescimento na casa de 2% no ano passado, inferior aos já magros 2,4% estimados pelo mercado. Os juros reais elevados e o câmbio valorizado aparecem como os principais culpados. O número de novembro sugere que o processo de ajuste de estoques em alguns setores da indústria não se esgotou no terceiro trimestre. Para alguns economistas, esse ajuste indica que a indústria está preparada para crescer com mais força no primeiro trimestre deste ano, num cenário marcado também pela expectativa de continuidade de queda de juros e de aceleração dos gastos públicos. O avanço da produção industrial em novembro foi insuficiente para reverter a trajetória de queda da média móvel trimestral, que mostrou recuo de 0,5%. A economista Giovanna Rocca, do Unibanco, lembra que foi a terceira queda seguida do indicador, importante por dar uma boa idéia da tendência do comportamento da indústria, menos volátil do que os números mensais. O Instituto para Estudos do Desenvolvimento Industrial (Iedi) nota que, "por categoria de uso, apesar dos melhores resultados em geral obtidos em novembro, todos os segmentos ainda registram queda" pelo critério das médias móveis trimestrais: bens de capital caíram 0,2%; bens intermediários, 0,1%; bens duráveis, 2,6%; e bens semi e não-duráveis, 0,9%. "Ou seja, a despeito dos dois últimos meses terem apresentado variações positivas, elas ainda não foram suficientes para cobrir o péssimo desempenho de setembro", conclui o Iedi. De janeiro a novembro, a indústria acumula crescimento de 3,1%. A expansão em 12 meses caiu de 4,1% em outubro para 3,5% em novembro. O economista-chefe da MCM Consultores, Celso Toledo, diz que os números de novembro mostram uma indústria em recuperação, mas a uma velocidade mais lenta do que esperavam os analistas e também o Banco Central (BC) - pelo que se pode concluir da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) e de declarações de Henrique Meirelles. "A economia não está parada, mas os números são um sinal de alerta." Com o fraco desempenho de novembro, fica difícil acreditar num crescimento do PIB próximo a 2,5% em 2005. Giovanna avalia que, para a economia avançar os 2,2% estimados por ela, é necessário que a produção industrial tenha crescido 2% em dezembro, um número muito forte. Roberto Padovani, da Tendências , previa um PIB na casa de 2,6%. Com o resultado de ontem, ele já admite que o crescimento da economia ficará entre 2% e 2,5%. "A confiança do consumidor está se recuperando, as empresas desovaram os estoques, mas o movimento tem sido muito gradual e assim será o crescimento", avalia. O economista-chefe do Pátria Banco de Negócios, Luís Fernando Lopes, é mais pessimista. Segundo ele, se a agricultura e os serviços registrarem o mesmo padrão de recuperação da indústria no quarto trimestre, o crescimento em 2005 deverá ficar em apenas 2%. "E qualquer resultado abaixo do esperado da agricultura ou de serviços poderia trazer esse número abaixo de 2%", afirma ele, lembrando, porém, que o IBGE pode fazer alguma revisão das séries anteriores, o que pode levar o PIB para cima. Mas houve alguns sinais positivos nos números de novembro divulgados ontem pelo IBGE; os analistas do Bradesco notam que o crescimento da produção se deveu principalmente à indústria de transformação, que cresceu 1,2% ante outubro, e bem menos à indústria extrativa (com crescimento de 0,1%). Para eles, também é um é um alento o crescimento de 2,2% da produção de bens de capital, assim como o de 0,9% registrado pelos insumos típicos da construção civil, dois indicadores importantes para o investimento. Ainda assim, o Bradesco, que esperava um crescimento de 1,2% na produção da indústria, considera o resultado de novembro medíocre e acredita que as expectativas de elevação do PIB do mercado hoje em 2,4% devam ceder para algo entre 2,1% e 2,2%. Porém, como o ritmo fraco do fim do ano indica um alinhamento nos estoques, os analistas do banco esperam um primeiro trimestre aquecido. Francisco Pessoa Faria, da LCA Consultores, partilha dessa análise e estima que a queda dos juros e o aumento do gasto público, que já teve início com o anúncio da operação tapa-buraco, irão estimular a economia neste início de ano. Mas para outros, como a economista Thaís Zara, da Rosenberg & Associados, a atividade econômica vai carregar, para o início de 2006, o baixo dinamismo do segundo semestre do ano passado.