Título: Novo cenário com PDT pós-Brizola
Autor: Rosângela Bittar
Fonte: Valor Econômico, 11/01/2006, Política, p. A6

O programa de inserções da propaganda política obrigatória do PDT, que está sendo veiculado esta semana, chama a atenção tanto pelas novas apostas como pelas reflexões que provoca a respeito das transformações do cenário político que podem vir por aí. Até o ano passado, o partido ainda explorava, na propaganda, a imagem do seu principal filiado e presidente. Atrás do símbolo da rosa vermelha em primeiro plano, aparecia ao fundo a voz do seu líder maior, Leonel Brizola, morto em 2004. O PDT tinha em Brizola, com seu carisma e o que representava de carga ideológica e herança do getulismo, sua única âncora. Em torno dele tentava estimular os núcleos do partido ou os adeptos isolados nos Estados. Na verdade, o PDT só existia mesmo no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul e Brizola não tinha, no seu partido, políticos que lhe fizessem sombra ou tivessem destacado perfil para incorporar de imediato a identidade do PDT depois de sua morte. O que há de interessante na propaganda partidária desta semana é que o partido demonstrou nova força intrínseca. Dois políticos excepcionais, respeitáveis, relevantes em termos de imagem própria, construída em campos diversos da política, fizeram o chamamento para o PDT: os senadores Cristovam Buarque (DF) e Jefferson Péres (AM). Estas duas novas âncoras de hoje não são nem do Rio de Janeiro nem do Rio Grande do Sul. Com eles, o PDT se amplia para o Centro-Oeste e para a Amazônia, e ganha consistência em dois tipos de exercício da política. Péres é um político de atuação parlamentar destacada, reconhecido por sua coragem e firmeza ética, e Cristovam , que está agora na sua primeira experiência parlamentar, já foi experimentado, com sucesso, em cargos executivos. Governador de Brasília, Cristovam tem em evidência, no seu currículo, o fato de ter sido o primeiro a operacionalizar em larga escala o programa de renda mínima denominado Bolsa-Escola, implantando-o em todo o Distrito Federal, com reconhecimento internacional e pedido de assessoria de numerosos países em todos os continentes. Não se fala dele nas exaltações ao programa porque varreram seu nome desse feito. No governo Fernando Henrique, o Bolsa-Escola foi alçado à escala federal com reconhecimento tímido à eficiência da proposta na gestão brasiliense. O governo Lula tomou o programa de FHC, mas, também, não deu os direitos autorais a Cristovam, mudando-lhe o nome, a marca que caracterizava a exigência de contrapartida da matrícula escolar, juntando várias outras iniciativas de atendimento a famílias pobres para dar um vistoso número de bolsas-família. Ainda participante do governo petista, à época, Cristovam protestou e tentou fazer o governo entender a importância de manter o Bolsa-Escola como estava concebido, mas não conseguiu. Ainda muito idealista, ainda nanico, ainda fraco em Minas Gerais e São Paulo (o que sempre foi o calcanhar de Aquiles do próprio Brizola), vê-se que o PDT começa a fortalecer agora uma nova identidade. No Congresso, há quem ache até que o partido deixará de ser nanico nesta próxima eleição. E que pode sonhar com vôos mais altos. Por exemplo, o PDT teria chances no caso de todos os partidos apresentarem candidato a presidente da República. Poderia haver um levante nacional, como uma onda, por um dos nomes novos submetidos ao eleitorado.

Âncoras levam o PDT a outras regiões

Endereço certo

As cobranças da inadequação, do equívoco, da inutilidade da convocação extraordinária do Congresso nestas férias de verão devem ser enviadas a um só endereço, o certo: o gabinete do presidente do Senado, Renan Calheiros. Foi ele que insistiu nisso, constrangeu o presidente da Câmara, e suspeita-se que apenas para ceder a pressões do baixo e alto clero por mais salários em ano de campanha. A razão alegada pelo senador para insistir na convocação extraordinária, a de que a crise não podia tirar férias, foi desmentida pelos fatos logo no primeiro dia da convocação: a crise tirou férias, e remuneradas. O próprio presidente do Senado só reapareceu ontem, no Congresso, bronzeadíssimo.

Há verdades e verdades

Seja o prefeito José Serra o candidato tucano à Presidência- e ele já disse que discorda desta política econômica em vigor há dez anos -, seja o governador Geraldo Alckmin, o projeto de governo a ser apresentado ao país na campanha tucana, guardará diferenças estruturais com o que a PUC do Rio, traduzida no que se chama de "malanismo", produziu ao longo dos últimos anos. Qual será, ainda não se sabe, mas os dois pré-candidatos já deram sinais de que não seguirão por esse caminho conhecido. Serra já discordava da política econômica adotada no governo Fernando Henrique e tem convicções pessoais enraizadas sobre o assunto. Alckmin, na área econômica, está ouvindo Luiz Carlos Mendonça de Barros, como tem chamado para conversas outros especialistas em diferentes campos para formar suas convicções. Desenvolvimentista reconhecido - foi pensando nele que o ex-presidente Fernando Henrique criou o Ministério do Desenvolvimento - o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros vem debatendo idéias para um programa econômico em reuniões semanais, às segundas-feiras, em seu escritório. Tem coordenado as reflexões de um grupo de convidados sobre os cenários do país, tanto na política quanto na economia. Na definição de um dos especialistas freqüentadores desses almoços de debates, todos se empenham na formulação de um programa para o PSDB. "O que não podemos é continuar com as verdades de sempre".