Título: Governador comunica afastamento a vice
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 11/01/2006, Política, p. A7

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), avisou ao vice-governador paulista, Claudio Lembo, que irá renunciar ao cargo antes do fim do prazo de desincompatibilização, mesmo que não tenha assegurada sua candidatura presidencial . Na conversa, ocorrida, segundo Lembo, há cerca de dois meses, Alckmin reiterou que não será candidato ao Senado. "Ele deixará o governo, no dia 31 de março, de qualquer maneira e só pensa na candidatura a presidente. Está com uma objetividade cruel neste sentido", afirmou Lembo. O gesto de Alckmin, se concretizado, obrigará o prefeito José Serra (PSDB) a sair do cargo no segundo ano de mandato sem ter o consenso tucano para tentar a Presidência da República, caso queira disputar em 2006. De acordo com o vice-governador, a sucessão estadual será conduzida sem ruptura. "Compreendo que terei que ser absolutamente solidário e conduzir a sucessão de maneira equilibrada. O governo Alckmin irá continuar até 31 de dezembro", afirmou. Sete dos 22 secretários de Estado deixarão o cargo para se candidatarem e Lembo não os nomeará livremente. "Os secretários que sairão serão ouvidos, para que não haja solução de continuidade. Há uma tendência para que os adjuntos assumam", disse. Irão sair do governo para se candidatar os secretários Saulo de Castro Abreu Filho (Segurança Pública), Gabriel Chalita (Educação), Emanuel Fernandes (Habitação), Duarte Nogueira (Agricultura), Arnaldo Madeira (Casa Civil), Hédio Silva (Justiça) e Lars Grael (Esportes), os dois últimos do PFL. O secretário de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia, João Carlos de Souza Meirelles, deve se afastar para coordenar a campanha de Alckmin. De acordo com Lembo, a permanência da influência de Alckmin na administração não significa que o PFL irá apoiar um candidato tucano ao governo estadual de modo automático. "O governador sabe que esta questão irá passar pelos canais partidários, nos planos nacional e local", afirmou. O vice-governador transpareceu que irá apoiar a candidatura do titular. "A paisagem melhora. O Brasil está deixando de ser vermelho para voltar ao verde-amarelo", disse. Além de procurar deixar como fato consumado a sua desincompatibilização, Alckmin já faz movimentos para tentar nacionalizar seu nome, estágio que seu rival no PSDB já atingiu desde que foi ministro da Saúde, entre 1998 e 2002. Em entrevista à rádio CBN do Recife, Alckmin lembrou que o Nordeste tem a segunda região em importância eleitoral do país e que, ainda que a escolha do vice seja feita posteriormente, a tendência é que ele venha de algum estado nordestino. Na entrevista, o governador prometeu que seu ministério não será um "paulistério", a exemplo do que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva teriam feito. Pela manhã, em uma solenidade, Alckmin minimizou a sua falta de dianteira nas pesquisas, comparando-se ao presidente argentino, Néstor Kirchner, ao afirmar que o presidente da Argentina, desconhecido da maioria da população antes das eleições. "Não tenho preocupação em ser mais conhecido. Para isso tem campanha eleitoral, tem rádio, tem televisão. É muito bom você ter uma avenida para poder caminhar. Alguém na Argentina sabia do nome do Néstor Kirchner? Ele era governador de um Estado lá... ninguém sabia", afirmou Alckmin. Kirchner governou a Província de Santa Cruz, na Patagônia, sul da Argentina. Na solenidade, Alckmin deu a entender que poderá sair do governo antes do fim de março. "As coisas caminharão bem, para o entendimento. Não tem data fatal. Pode ser fevereiro, março, abril. É um debate interno, que é saudável" . Deixou claro que não se importa com a falta de consenso dentro do PSDB, onde a candidatura de Serra ganha espaço. "Não quero ser candidato por WO. É muito bom ter várias e boas opções para poder refletir bastante e escolher bem." (Colaborou Cristiane Agostine, com agências noticiosas)