Título: Tucanos temem ter escolha contestada
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 11/01/2006, Política, p. A7

Eleições Cúpula do PSDB receia que Alckmin não aceite uma decisão favorável à candidatura de Serra

A cúpula do PSDB tenta firmar o compromisso "um lança o outro" entre o governador Geraldo Alckmin e o prefeito da capital, José Serra, segundo o qual o pré-candidato que for preterido nas consultas internas lançará e declarará apoio ao nome do escolhido para a disputar a Presidência da República. O principal receio dos dirigentes tucanos é que o candidato escolhido em março possa ser contestado na convenção de junho, que definirá oficialmente o candidato do partido à eleição. Hipótese considerada "pouco relevante" no PSDB, até o início da semana, o risco de disputa na convenção de junho ganhou contornos ontem com a declaração de Alckmin de que não quer ser candidato por WO. A frase soou para alguns dirigentes tucanos como um sinal de que o governador poderia não aceitar o resultados das consultas que serão feitas até março, caso o escolhido seja o prefeito José Serra. Nas conversas que tem no Palácio dos Bandeirantes, Alckmin insiste que é o candidato natural e que está determinado a conseguir a indicação do partido. "Bater chapa" em convenção não faz parte da curta tradição do PSDB. Desde a indicação de Mário Covas para concorrer às eleições de 1989, a escolha do candidato tucano é precedida de grandes embates nos bastidores, mas apenas um nome chega à convenção nacional. Nem mesmo em 2002, quando José Serra se tornou candidato sob forte contestação, o atual prefeito de São Paulo teve um adversário na convenção. O atual presidente da sigla, Tasso Jereissati (CE), apoiou oficialmente a candidatura de Ciro Gomes (à época no PPS), mas não se apresentou como alternativa na convenção nacional. Os dirigentes tucanos trabalham agora para que isso ocorra também em 2006. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), disse que a decisão de Alckmin de anunciar a desincompatibilização é legítima, mas é uma jogada que pode apressar a escolha oficial do partido: "Ele (Alckmin) está no direito dele, mas sabe também que poderá ficar sem mandato". A cúpula do PSDB alerta que o partido não pode desconsiderar o efeito Anthony Garotinho e nem os aliados potenciais, como o PFL. "Não vamos dar essa alegria aos nossos adversários", disse ontem o secretário-geral do PSDB, deputado Eduardo Paes (RJ). Ele diz que tanto Serra como Alckmin "sabem disso" e se diz convencido: quem for preterido "tem de ter a grandeza" de lançar e apoiar o nome do adversário. Paes, que é ligado a Serra, disse que considera "natural" a movimentação do governador paulista e que, como secretário-geral, não se sente atropelada por ela. A possibilidade de disputa na convenção de junho é considerada "o pior dos mundos" pelos dirigentes, algo capaz de botar por terra todo o planejamento que o PSDB estabeleceu em relação às eleições de 2002. Por esse planejamento, os tucanos escolhem oficiosamente seu candidato entre o fim de fevereiro e início de março. Para fundamentar a escolha, no próximo mês será realizada uma ampla pesquisa qualitativa para sondar o eleitorado sobre o perfil ideal do candidato a ser apresentado. Escolhido o candidato em março, já em abril a legenda terá três dias para apresentar comerciais de 30 segundos na televisão e no rádio. Em maio - de acordo com a programação solicitada pela sigla à Justiça Eleitoral - será a vez dos programas estaduais. Finalmente, em julho, será exibido o programa nacional. O partido terá ainda direito a mais cinco dias de comerciais. Em todos os programas o nome escolhido em março deve sofrer forte exposição. Em julho será o início oficial da campanha. Em agosto, tem início o horário gratuito na televisão e no rádio. Esse planejamento se tornará inútil no caso de a definição oficial dos tucanos ficar para junho, sem falar na vantagem que um eventual racha dará aos adversários do PSDB, como deu na eleição de 2002. "Seria um estrago relevante", diz integrante da cúpula partidária. Um dos tucanos mais preocupados com essa possibilidade é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. FHC atribuiu a si mesmo a tarefa de tentar caminhos convergentes dentro do partido. A chamada "solução de consenso", a que estão habituados os tucanos. O problema é que interlocutores do ex-presidente ainda acreditam que, no fundo, FHC teria esperanças de ser ele o candidato do PSDB.