Título: Economia global aquecida deve puxar vendas dos EUA
Autor: James Cooper e James Mehring
Fonte: Valor Econômico, 11/01/2006, Internacional, p. A8

Comércio Demanda maior e queda do dólar favorecerão as exportações

A economia global dá indícios de que ficará menos desequilibrada em 2006 - o que tende a beneficiar os exportadores americanos. Nos últimos anos, os EUA vêm sendo a força dominante por trás do crescimento econômico mundial. É verdade que a China e grande parte da Ásia vêm registrando grandes resultados, mas esses mercados não são tão importantes para os negócios relacionados a exportação quanto os mercados do Japão e da zona do euro. Essas duas áreas respondem por mais de 20% de todas as exportações americanas, mas elas vêm se mantendo estagnadas nos últimos anos. Neste ano, a história será diferente. Enquanto se espera que o crescimento dos EUA desacelere um pouco, à medida que as taxas de juros começarem a esfriar tanto o consumo quanto o mercado imobiliário, a demanda no Japão e na zona do euro vai começar a esquentar. Ambas as regiões já dão mostras de que os juros excepcionalmente baixos estão finalmente impulsionando os mercados de trabalho e o consumo doméstico. O consumo no Japão aquece num momento em que o país parece estar vencendo sua batalha contra a deflação e a estagnação. Espera-se que as economias do Canadá e do México, que absorvem mais de um terço das exportações dos EUA, mostrem melhoras também. O crescimento na China pode melhorar um pouco, mas vai continuar robusto o bastante para manter o crescimento asiático num ritmo sólido. Uma demanda externa sólida pode não ser a única boa nova para os exportadores americanos neste ano. Há boas razões para acreditar que o dólar esteja pronto para iniciar um novo declínio. Isso deve se dar porque a melhora das perspectivas de crescimento fora dos EUA e as crescentes taxas de juros externas melhorarão o potencial de retorno dos investimentos baseados em dólar nos EUA. O dólar caiu ante o euro nos primeiros dias do ano, após as minutas da reunião de dezembro do Fed (Federal Reserve, BC dos EUA) sugerirem que as altas contínuas dos juros podem terminar logo. O grande ganhador nesse cenário deve ser a indústria de transformação dos EUA. O setor industrial vem mostrando uma nova força nos últimos meses, em resposta à animada demanda doméstica de consumidores e empresas. O índice de atividade industrial pode ter caído quatro pontos em dezembro em relação a novembro, mas esse declínio ocorreu depois de uma alta exagerada, puxada pelo repique pós-furacões. Em 2006, a indústria de transformação, especialmente os fabricantes de bens de capital, pode esperar uma ajuda adicional do exterior. Equipamentos, de aeronaves a equipamentos de alta tecnologia, responderam por mais de 85% das exportações dos EUA em 2005. As vendas em 2005 desaceleraram em relação à forte performance no ano anterior, enquanto o dólar subia e os crescentes custos de energia minavam a demanda global. Nem todos os dados de 2005 já estão computados, mas as exportações devem crescer alguns pontos percentuais a menos do que em 2004. Naquele ano, as exportações de bens e serviços cresceram 8,4%, o melhor resultado em quatro anos, contando com a ajuda de um declínio de 16% do dólar entre o começo de 2002 e o fim de 2004. Em 2006, as exportações dos EUA têm uma boa chance de ter o melhor ano desde 1997. A demanda mais forte vai ajudar, mas uma competitividade fortalecida pelo dólar mais barato será um fator-chave para chegar a esse resultado. Isso é mais evidente na relação do dólar contra iene e euro. Usando os índices ajustados de inflação calculados pelo Fed, o dólar cresceu 4% no ano passado. Entretanto ele avançou mais de 10% ante as moedas mais fortes. Em particular, o dólar ganhou 12,5% ante o euro e 14,8% ante o iene. A boa notícia: essas são as moedas ante as quais o dólar deve perder mais neste ano. Isso porque o Fed parece mais próximo de acabar com a subida dos juros e, ao mesmo, o Banco Central Europeu começa a subir suas taxas e o Banco do Japão discute acabar com sua política de juro zero, que já dura quatro anos. Isso muda toda a tendência vista em 2005. Outra razão: o crescimento da economia dos EUA em 2005, que se espera que chegue a 3,6%, vai ultrapassar em muito os índices de 1,3% e de 2,2% esperados para a zona do euro e do Japão respectivamente. Em 2006, essas diferenças devem diminuir, outro fator que influenciará a percepção daqueles que esperam retorno dos investimentos em dólar. O mais interessante é que a alta do dólar no ano passado acabou obscurecendo uma surpreendente tendência na competitividade dos EUA que deve continuar neste ano. Enquanto o dólar se fortalecia ante as moedas de seus maiores parceiros comerciais, caía ante outras moedas de parceiros importantes, mas menores. O Fed calcula um índice separado feito ante 19 moedas de "outros parceiros importantes" - que incluem China, outros países da Ásia, países-chave da América Latina e outros países que, juntos, respondem por 40% do volume de comércio dos EUA. Desde meados de 2004, o dólar caiu mais de 6% ante essas moedas. Muitos desses países mantêm o câmbio quase atrelado ao dólar. A pequena valorização que a China fez do yuan em julho foi parcialmente responsável por essa tendência, mas os benefícios para os exportadores americanos foram mais amplos. As exportações para os países da costa do Pacífico, incluindo aí o Japão, foram 14% maiores em outubro do que no mesmo período do ano passado. Seguindo o exemplo da China em direção a uma flexibilização maior de sua moeda, outros países da Ásia relaxaram o câmbio. Mas, apesar de se esperar que as exportações continuem bem em 2006, não esperem que déficit comercial americano diminua. Mesmo que as exportações cresçam 10%, as importações teriam de ficar limitadas a um aumento de 6,5% só para manter o déficit no patamar atual. A menos que a desaceleração na demanda dos EUA seja muito maior do que o esperado, as importações devem continuar subindo muito. Isso significa que os padrões de comércio não devem ser positivos no geral para a indústria de transformação. Para os exportadores, entretanto, 2006 deve ser um grande ano.