Título: Vale e Petrobras vão explorar gás natural em Moçambique
Autor: Vera Saavedra Durão e Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico, 11/01/2006, Empresas &, p. B5

Energia Pela primeira vez, as duas maiores empresas brasileiras, Petrobras e Vale do Rio Doce, se unem em parceria no exterior para explorar gás natural no continente africano, mais precisamente em Moçambique, onde a mineradora toca um projeto de exploração de carvão na região de Moatize avaliado em US$ 1 bilhão. Esta será também a primeira investida da Vale no negócio de gás. Para alavancar a operação, as duas gigantes decidiram unir forças e assinaram, ontem, memorando de intenções. O plano de Vale e Petrobras é fazer um estudo para identificar as áreas com melhor potencial de exploração e produção de gás natural. Para tanto, já existem dados de sísmica fornecidos pelo próprio governo moçambicano. A partir da análise e do aprofundamento das informações, os investidores devem apresentar ao governo local suas pretensões sobre áreas onde gostariam de atuar. Caberá ao governo definir se licita estas áreas ou se chama os investidores brasileiros para uma negociação direta. O conselheiro da Embaixada da República de Moçambique, Agostinho Alberto Timano, disse que a Petrobras manifestou também interesse em prospectar petróleo naquele país. "Por enquanto estamos olhando o gás. Porque até agora, o negócio de petróleo é com a Petrobras", disse Roger Agnelli, presidente da Vale, indagado sobre a disposição da mineradora de entrar também na área petrolífera. O plano de negócio das duas empresas é uma combinação de interesses estratégicos: prevê um produtor de gás, usando a experiência da Petrobras, e um consumidor, no caso a Vale. A idéia de Agnelli é contar com fontes de energia competitivas - como carvão e gás - para desenvolver um pólo mínero-siderúrgico na região de Moatize. No projeto de exploração de carvão já consta a construção de uma térmica a carvão, com capacidade de gerar 1.500 megawatts (MW), com investimentos da ordem de US$ 1,5 bilhão. Essa energia será usada para alimentar uma usina de alumínio que a Vale pretende instalar no local. O executivo mencionou ainda a pretensão de implantar na região - em acordo com clientes da mineradora - uma siderúrgica com tecnologia de redução direta e usinas de pelotização, alimentadas com minério de ferro do Brasil. Segundo Agnelli o estudo de viabilidade do projeto de carvão de Moatize deve ficar pronto em julho. Com reservas estimadas em 2,4 bilhões de toneladas, que permite a exploração de carvão coqueificável e energético, a mina deverá produzir 14 milhões de toneladas ao ano. Cerca de um terço disso deve suprir a térmica e o restante será vendido às siderúrgicas brasileiras. A logística do projeto prevê o transporte do carvão por uma ferrovia que ligará Moatize ao porto de Nacala, no Norte do país. O diretor executivo da área de participações e novos negócios da Vale, Murilo Ferreira, disse que a ferrovia tem cerca de 507 quilômetros de malha em ótimo estado e 155 quilômetros precisarão ser reformados e mais 200 construídos. "A malha passará por Malawi, país vizinho a Moçambique, abrindo um novo corredor de transporte local para o Oceano Índico. A Vale tinha outra opção, que era a estrada de ferro entre Moatize e o porto de Beira. Mas acabou desistindo de utilizá-la. Boa parte dessa ferrovia foi destruída pela guerra civil. José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras, destacou que a parceria com a Vale vai possibilitar à estatal explorar gás na costa Leste da África. Atualmente, a estatal concentra seus negócios na Costa Oeste, basicamente em Angola e Nigéria. Mas a descoberta de algumas áreas de gás em Moçambique e na Tanzânia voltou a despertar o interesse das empresas petrolíferas para esta região africana. Há 15 anos a Petrobras chegou a realizar atividades exploratórias em Moçambique. Desistiu porque não havia mercado para consumo do gás e o preço do insumo energético não compensava o investimento, segundo admitiu Gabrielli.