Título: Ásia vai alavancar produção de aço até 2010
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 11/01/2006, Empresas &, p. B6

Siderurgia Analistas prevêem crescimento médio anual de 5% no mundo, impulsionado pela China

A produção global de aço deve crescer 5% ao ano até 2010 e quase dobrar para 2 bilhões de toneladas em 2015, tendo os produtores asiáticos como os grandes ganhadores, de acordo com estudo do Deutsche Bank. A Ásia - o que quer dizer principalmente China - deve aumentar a produção em 8% ao ano, mais do dobro dos concorrentes, fazendo sua fatia no mercado global crescer de 47% para 64% nos próximos cinco anos. O estudo entra pouco em detalhe sobre o Brasil. Assinala que a capacidade pode pular de 35 milhões, hoje, para mais de 50 milhões de toneladas nesse período. O aumento é de superior a 40%, impulsionado por investimentos estrangeiros, vastas reservas de minério de ferro e baixo custo de mão-de-obra (o custo médio da hora no país é de 3 euros, comparado a 26 euros na Alemanha). Enquanto a China ganha importância rapidamente tanto como comprador quanto como produtor, a fabricação em outras regiões do globo fica abaixo da média global: 3% ao ano na Rússia e Ucrânia, 1% na União Européia, 0,5% nos Estados Unidos. Uwe Perlitz, analista do banco alemão, prevê que os maiores perdedores serão os produtores da União Européia, com queda de 6% de fatia de mercado, e os norte-americanos com 5%, afetados por oferta limitada de matéria-prima e alto custo da mão-de-obra. As siderúrgicas da UE vão se concentrar cada vez mais na produção de aço de alta qualidade.

O cenário do banco alemão é mais otimista que o do HSBC.

Paul McFaggart, analista do banco inglês, estima em 4% a expansão global, idêntica ao período 1994-2004. Em todo caso, acha que a China sozinha representará 79% do crescimento da produção. A China já é o maior produtor mundial de aço desde 1997. Detém, atualmente, 26% do mercado mundial. As estimativas são de que o país pode ter alcançado uma produção recorde de 350 milhões de toneladas em 2005. Para McFaggart, o crescimento do consumo global de aço tem sido inferior ao aumento da capacidade. Nos últimos dez anos, a capacidade mundial cresceu 242 milhões de toneladas (185 milhões só na China), enquanto o consumo subiu 308 milhões de toneladas. Para o Deutsche Bank, essa tendência vai continuar, pois a China precisa fazer enormes investimentos em projetos de infra-estrutura para manter seu acelerado crescimento econômico. Além disso, a indústria de aço aposta na expansão do setor automotivo chinês. A expectativa é de que a China se tornará o maior produtor mundial de carros em 15 anos. A indústria do aço chinesa está aumentando sua produção de aço de alta qualidade, mas suas fábricas ainda produzem sobretudo aços longos (como vergalhões e perfis), como na Europa do Leste. Na China, a relação entre aço de baixa e de alta qualidade é de 65 versus 35. Produtores na Europa acham que para ser competitivo é necessária uma relação de 40/60. No médio prazo a produção chinesa não será capaz de satisfazer a demanda por aço, sobretudo o de alta qualidade. Primeiro, pela dinâmica da economia. Segundo, pela necessidade de produtos de melhor qualidade. A Coréia e o Japão dominam a indústria global de construção de navios, dopados por enormes subsídios, mas produção de aço terá expansão menor. Na Rússia e Ucrânia, as exportações para a China são a principal fonte de expansão. Os preços são bem mais baixos. Mas, a industria precisa fazer altos investimentos para melhorar a competitividade. Com relação a preços para 2006, analistas são bem mais prudentes. O custo do aço está mais caro nos EUA do que no resto do mundo. Luc Pez, do Société Générale, em Paris, calcula que a diferença é de US$ 135 e US$ 220 a tonelada em relação ao mesmo aço na Europa e na China. É que os estoques caíram a níveis dramáticos nos EUA. Essa situação pode levar a mais importações nos próximos meses, o que por sua vez tende a moderar os preços nos EUA. Outros esperam queda de 7% no preço do aço de alta qualidade, pouco significativo depois dos aumentos de 2005.