Título: Ferrugem se alastra e piora cenário para a safra de soja
Autor: Cibelle Bouças
Fonte: Valor Econômico, 11/01/2006, Agronegócios, p. B10
Grãos Fungo causou perda de US$ 1,43 bi no país nos quatro últimos ciclos
O clima chuvoso no Centro-Oeste e em algumas áreas do Sul que estão conseguindo escapar da estiagem está colaborando para a disseminação do fungo da ferrugem da soja nas lavouras, fator que, associado ao dólar desfavorável e aos preços em Chicago abaixo dos US$ 6 por bushel, traz preocupação a produtores e indústrias exportadoras no início desta safra 2005/06. Conforme a Embrapa Soja, o número de casos de ferrugem no país cresceu de 250 para 295 do fim da semana passada até ontem. Conforme estudo da estatal, nas últimas quatro safras os produtores perderam o equivalente a US$ 1,425 bilhão com a ferrugem - valor que inclui, além de perda com a redução de produtividade, gastos extras com aplicação de fungicidas. "As chuvas contribuem para o avanço da doença. Dependendo do clima, as perdas nesta safra podem até superar as do ciclo passado", avalia Ademir Henning, coordenador da área de fitopatologia da Embrapa Soja. Ele observa que os ventos que vêm da Bolívia e as chuvas estão ajudando a disseminar os esporos do fungo causador da ferrugem nas lavouras do Centro-Oeste. Conforme a estatal, o Estado mais prejudicado tem sido o Mato Grosso do Sul, onde já foram localizados 113 focos nas lavouras. Na primeira semana do ano, haviam 60 focos registrados, contra 37 no mesmo período de 2005. "A doença avança em ritmo igual ou maior que no ano passado, dependendo do Estado", diz Henning. Do total de casos, foram registrados 71 focos no Paraná, 55 em São Paulo, 18 no Mato Grosso, 11 em Rondônia, 15 em Goiás e 9 em Minas Gerais. Henning diz que, embora não existam estatísticas, já há notícias de avanço da doença no Mato Grosso. Helmute Lawisch, presidente do Sindicato Rural de Lucas do Rio Verde (MT), confirma a existência de inúmeros focos no Estado, que avançam com as chuvas. O município, que plantou 22 mil hectares de soja precoce, está encontrando dificuldades para colher os grãos em função das chuvas. "Os produtores estão preocupados com o quadro atual", diz. César Borges, vice-presidente da Caramuru, estima que a produção de soja no Mato Grosso deve recuar de 6,9 milhões de toneladas, no ciclo 2004/05, para 6,4 milhões em 2005/06 em função da redução de área (entre 5% e 6%) e das perdas com a ferrugem. A empresa espera receber neste ano, no total, 1,7 milhão de toneladas de soja para moagem, 10% mais que em 2005. Em Goiás, a Cooperativa Mista dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo), que em 2005 processou 780 mil toneladas de soja, estima perdas no Estado por conta dos problemas climáticos e da ferrugem. Antonio Chavaglia estima produção 5% menor que no ciclo 2004/05, ficando em torno de 6,618 milhões de toneladas.