Título: Frustrante, atividade amplia corte do juro
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 11/01/2006, Finanças, p. C2

A frustração provocada pelo baixo crescimento da produção industrial em novembro intensificou o declínio dos juros projetados no mercado futuro da BM&F e interrompeu a onda de desvalorização do dólar. Segundo pesquisa do IBGE, a indústria produziu em novembro apenas 0,6% a mais que em outubro, enquanto os analistas previam expansão entre 1% e 1,5%. O dado desmancha a argumentação oficial de que, depois da retração experimentada pelo PIB no terceiro trimestre, a economia tinha começado a se recuperar, autorizando a expectativa de crescimento do PIB este ano de 4%. Não é isso o que revela o IBGE. Para conseguir os seus 4%, o Banco Central será forçado a ampliar o tamanho do corte do juro. Mas como tanto a ata do último Copom quanto o Relatório de Inflação sinalizaram a intenção do BC de manter, na reunião da semana que vem, em meio ponto percentual o ritmo de baixa da Selic, o pregão de DI futuro moderou a queda para o contrato mais curto, relativo à virada do mês. Ele cedeu de 17,63% para 17,60%, ainda embutindo Selic de 17,50% no final do mês. Mas aumentou para 0,75 ponto o corte a ser feito na reunião de março do Copom. Esse contrato foi o segundo mais negociado, com giro invulgar de R$ 18,69 bilhões. E a projeção caiu de 17,30% para 17,23%. Para os contratos mais distantes, as baixas foram mais acentuadas. Ou seja, a curva intensificou sua inclinação. O contrato para a virada do ano, cujo volume de negócios saltou 135,7%, para R$ 21,92 bilhões, a taxa recuou de 16,28% para 16,15%.

Após cinco quedas, dólar sobe 0,53%

A percepção de que o BC pode, contra seus princípios, ser forçado a acelerar o declínio do juro básico forneceu o pretexto para o mercado de câmbio segurar o movimento de queda do dólar iniciado no dia 3. Após desvalorização de 3,85% em cinco pregões, o dólar subiu ontem 0,53%, para R$ 2,2620. A alta aconteceria mesmo se o BC não tivesse insistido em seus leilões cambiais. A mera sinalização de juros menores é mais fundamental à definição do preço do dólar do que as compras do BC. Ele vendeu ontem a oferta completa de 8,8 mil contratos de swaps reversos, equivalentes a US$ 416,5 milhões. Irá repetir a dose hoje, com a oferta de outros 8,8 mil swaps invertidos. Já vendeu, desde o dia 17 de novembro, 266,5 mil desses contratos, assumindo posição credora de US$ 14,283 bilhões, decidido a zerar completamente sua exposição em câmbio. E adquiriu dólares em leilão realizado à tarde pelo preço de R$ 2,2570. Aceitou 11 propostas formuladas por 12 bancos. Pesou na interrupção da queda do dólar o retorno do medo de que o BC venha a baixar medidas menos ortodoxas para evitar a apreciação cambial, já que as intervenções clássicas não vêm surtindo resultados positivos. Esse receio, sobretudo o de que as posições vendidas dos bancos venham a sofrer restrições, neutralizou o impacto positivo sobre o câmbio da emissão soberana concluída ontem pela República, a primeira de 2006, e em condições mais vantajosas. Para abrir espaço para o novo Global 37, as instituições de Wall Street venderam Global 40, o bônus brasileiro mais líquido. E o risco-país subiu dois pontos, para 284 pontos-base, depois do recorde de baixa de 282 pontos-base estabelecido na véspera.