Título: Tesouro Nacional obtém US$ 1 bilhão em títulos com vencimento em 2037
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 11/01/2006, Finanças, p. C2

O Tesouro Nacional obteve US$ 1 bilhão no mercado internacional, na sua primeira captação externa do ano, em papéis de vencimento em 2037. A demanda total passou US$ 3 bilhões, segundo Alexandre Aoude, do Deutsche Bank, um dos líderes da operação. "O Tesouro poderia ter facilmente colocado US$ 2 bilhões, mas optou pela prudência", disse Aoude. Com isso, deixou demanda não atendida e o preço dos títulos, após ter registrado pequena queda inicial, chegou a bater nos 95,30%, um aumento de 0,527%. De uma forma geral, os mercados emergentes, que vinham com aumento de prêmios de risco ontem pela manhã e tarde, reagiram positivamente ao resultado da emissão do Brasil, com alta de preços nos títulos de dívida no final do dia. "A alta nos juros dos títulos do Tesouro americano poderia ter atrapalhado a operação do Brasil, mas não atrapalhou", disse Aoude. Os juros dos papéis dos EUA de dez anos passaram a 4,425% ao ano ontem no fechamento, em alta forte de 0,05 ponto percentual. O risco-Brasil do EMBI + terminou a 283 pontos básicos às 20h30, horário de Brasília, uma alta de 0,71% em relação ao recorde histórico de baixa do dia anterior, de 281 pontos básicos. Os investidores se assustaram inicialmente com o movimento de alta nos títulos americanos e começaram a avaliar se não haveria uma oferta grande demais de títulos de países emergentes no mercado neste mês. Segundo a equipe do Barclays Capital, a Turquia e as Filipinas, países que concorrem com o Brasil pelo mesmo tipo de investidor, já emitiram nada menos do que US$ 3,5 bilhões. A Vale do Rio Doce já captou US$ 1 bilhão e o Banco do Brasil está com operação de US$ 300 milhões para sair, além de inúmeras outras no forno. Mas, não faltou demanda, pois o Tesouro se aproveitou para fazer a emissão em um momento que vencia um outro título da dívida externa do país. Hoje, dia 11, serão resgatados US$ 1,5 bilhão em papéis de vencimento em cinco anos emitidos em 2001, com rendimento de 10,545% ao ano e prêmio de risco de 570 pontos básicos sobre os títulos do Tesouro dos EUA. O Global 37 tem cupom (juro nominal) de 7,125% ao ano e rendimento de 7,557% ao ano. O prêmio de risco sobre os títulos do Tesouro dos EUA é de 295 pontos básicos. Com a operação, o Tesouro alongou o prazo médio de sua dívida - o título de vencimento em 2037 é o mais longo da história do país depois do Global 40, de vencimento em 2040. Os recursos entram nas reservas internacionais - o caixa em moeda estrangeira - no dia 18 próximo. Com a operação, faltam apenas US$ 500 milhões para o Tesouro emitir neste ano. "O Tesouro atuou direitinho, quase liquidou suas necessidades de financiamento sem pressionar a parte média da curva de juros", disse Aoude. Segundo ele, as ordens de compra dos papéis vieram 50% da Europa e Ásia e o restante das Américas, principalmente EUA e Brasil. Os compradores, segundo ele, foram em sua maioria aqueles que ficam com o título por um longo tempo. Aoude explicou que o preço de 94,8% do valor de face tem mais potencial de alta e é atrativo em um momento que todos os papéis brasileiros estão com preço acima do 100% - alguns, como o Global 40, em torno de 130%.