Título: Indicadores do país dão salto de qualidade
Autor: Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 19/12/2005, Finanças, p. C10

Contas externas Estudo do Tesouro mostra maior solidez, com dívida menor, prazo maior e reservas robustas

Um velho fantasma da economia brasileira, a vulnerabilidade das contas externas, já não assombra o país como no passado. O Brasil é hoje, do ponto de vista externo, bem menos vulnerável a crises do que era há seis anos. As exportações dobraram, a dívida externa líquida diminuiu sensivelmente, os prazos médios de vencimento aumentaram, as reservas internacionais duplicaram. Pelo segundo ano consecutivo, o país acumulará em 2005 saldo em conta corrente positivo equivalente a 2% do PIB (cerca de US$ 11 bilhões). Para se ter uma idéia, em 2001, o saldo foi negativo em US$ 23,2 bilhões. Num estudo concluído na sexta-feira passada, a Secretaria do Tesouro Nacional chama a atenção para a melhora dos indicadores da dívida externa do setor privado, cujo estoque encolheu, em apenas cinco anos, 36% - caiu de US$ 124,6 bilhões em dezembro de 2000 para US$ 79,2 bilhões em setembro último. "A relação dívida externa do setor privado/exportações caiu de 226% em 2000 para 71% no fim de 2005. Esta é uma redução de quase 70% em menos de seis anos", informa o texto, que foi elaborado em inglês pelo Departamento de Planejamento Estratégico da Dívida Pública do Tesouro. Intitulado "Dívida Externa Privada no Brasil: Menor e Mais Longa", o documento foi enviado às agências internacionais de classificação de risco. Faz parte do esforço do secretário do Tesouro, Joaquim Levy, em convencer as agências a melhorarem a classificação da dívida brasileira, ainda considerada de alto risco pelos avaliadores internacionais. Levy está convicto de que as agências demoram em demasia para reconhecer a melhora dos índices de solvência da economia brasileira. Isso vale tanto para a avaliação do risco soberano quanto do risco privado. Essa demora impede que o setor público e as empresas se financiem no exterior a custos menores. O estudo mostra, por exemplo, que os prazos de vencimento das dívidas do setor privado aumentaram de forma acentuada nos últimos anos. Dados da Anbid (Associação Brasileira dos Bancos de Investimento) revelam que, em 1999, o prazo médio de papéis emitidos por empresas era de 21,9 meses. Em 2005, pulou para 69,8 meses; portanto, para mais de cinco anos e meio. Uma novidade, impensável no passado recente, permitiu que, a partir de 2004, companhias brasileiras passassem a emitir papéis no exterior em reais. Naquele ano, foram captados nessa modalidade US$ 376,4 milhões. Nos primeiros nove meses de 2005, o montante subiu para US$ 588 milhões. Interessadas em reduzir suas dívidas com o exterior, as empresas brasileiras têm rolado, em média, menos de 70% dos vencimentos. "Essa taxa de rolagem reflete mais decisões de portfólio do que qualquer dificuldade em acessar os mercados globais", assinala o documento. De fato, uma grande parcela da dívida externa brasileira só existe porque as companhias tiram proveito do fato de que se endividar em moedas estrangeiras é bem mais barato do que em reais. Os vencimentos da dívida privada (juros e principal) estão diminuindo. Enquanto, em 2001, atingiram US$ 31,5 bilhões, neste ano devem fechar em torno de US$ 23,5 bilhões, uma redução de 25%. No mesmo período, as exportações quase dobraram. "Isso implica que o esforço financeiro do país para honrar a dívida externa do setor privado caiu à metade no período (a relação dívida privada/exportações caiu de 64% para 24%)", explica o texto. O saldo da balança comercial, por sua vez, passou de zero no ano 2000 para US$ 40 bilhões nos últimos meses de 2005. Já as reservas internacionais líquidas do país pularam de US$ 31,5 bilhões em 2001 para US$ 50,8 bilhões em 2005 (dados de novembro). Nesse nível, as reservas são suficientes para pagar duas vezes os compromissos do setor privado com o exterior em 2006, números que devem repetir 2005, atingindo, portanto, cerca de US$ 24 bilhões, entre juros e principal.