Título: Gestora cria carteira com dívida e sem risco cambial
Autor: Angelo Pavini
Fonte: Valor Econômico, 11/01/2006, EU &, p. D2

Estratégia Aplicação busca aproveitar expectativa de melhora do risco-Brasil nos próximos 10 anos

Que os papéis da dívida externa brasileira têm sido um bom negócio, isso ninguém duvida. Basta verificar a alta que o preço do Global 40, papel com vencimento em 2040, teve de dezembro de 2002 até sexta-feira: 102,6%. A expectativa de que a situação externa brasileira continue melhorando e que o país pague suas dívidas lá fora com tranqüilidade - reforçada pela decisão de quitar o débito com o Fundo Monetário Internacional e pelo crescimento das reservas - faz com que analistas prevejam ganhos também para o futuro. O problema é como o investidor local pode aplicar nesses papéis. A alternativa até agora eram os Fundos de Investimento no Exterior (Fiex), que compram dólares e depois os usam para adquirir os papéis no mercado internacional. O problema é que, com o dólar em queda, esses fundos acabaram perdendo na variação cambial tudo o que ganharam com os títulos. Além disso, o investidor abre mão do juro local, de 18% ao ano, para ficar com um retorno próximo de 7% ao ano lá fora. No ano, esses fundos apresentam perda de 4,62% até 14 de dezembro, segundo dados do site Fortuna. No mês, o ganho é de 2,44%, graças à alta dos papéis e à melhora do dólar. De olho nessa oportunidade, a Hedging-Griffo criou um fundo que vai buscar o melhor dos dois mundos: garantir os ganhos futuros desses papéis e ao mesmo tempo o CDI. O fundo HG Selic 2040 será um multimercado que terá sua carteira 100% aplicada em títulos corrigidos pelo CDI e, ao mesmo tempo, uma parcela de 51% alavancados em contratos futuros de Global 40, na BM&F. Isso significa que não haverá risco cambial. Outra novidade é que ele terá o ganho extra do aluguel dos títulos da dívida no exterior. Isso porque o banco que vende o contrato futuro de Global 40 na BM&F para o fundo compra o papel lá fora e, em vez de guardá-lo no cofre, o aluga para um fundo hedge ou um investidor, que vai usá-lo para especular no mercado internacional. E, do aluguel recebido, 85% ficam com o fundo brasileiro. "É uma vantagem sobre um investidor que vai sozinho comprar o papel no exterior e não tem poder de barganha para negociar uma parte do aluguel com o banco", explica Ricardo Campos, sócio gestor da Hedging-Griffo. "A idéia é ter uma rentabilidade equivalente ao CDI, acrescida da taxa de juros do papel brasileiro 2040 lá fora e ainda com o adicional do aluguel, sem correr o risco do dólar", afirma Campos. Esse ganho extra girava em torno de 5% ao ano na semana passada. Como o fundo tem 51% aplicados no Global 40, receberia a metade, ou seja, 2,5%, além do ganho com o CDI. O fundo chega em um momento em que os juros pagos pelos papéis brasileiros já caíram bastante, reconhece Campos. Mas isso reforça a característica de longo prazo da aplicação. "Este fundo é para quem está olhando o Brasil para daqui dez anos, quando os juros estiverem menores tanto aqui quanto no exterior", explica. Já Luis Stuhlberger, sócio da Hedging-Griffo, compara o fundo à compra de um apartamento na planta. "Você está comprando um ótimo imóvel em um bairro que vai se valorizar em cinco, dez anos", diz. A taxa de administração do fundo, voltado para investidores qualificados, com mais de R$ 300 mil para aplicar, é de 0,7% ao ano e a aplicação mínima é de R$ 50 mil. O Global 40 é hoje o título da dívida com maior volume de negócios, substituindo os C-Bonds. Com isso, seu aluguel subiu de 1% ao ano para 3% ao ano em média. "E em momentos de crise, esse percentual sobe pois mais gente quer alugar o papel para vender apostando na baixa", explica Campos. A aposta é na melhora do risco-Brasil. Portanto, o investidor tem de estar consciente que, se o risco subir, haverá perdas, que podem ser amenizadas pelo aluguel e pelo rendimento do CDI da carteira, mas vão impactar o resultado. "Para cada ponto percentual de alta no risco, o preço do Global 40 cai 6,5%", diz Campos. Como o fundo tem metade da carteira nesses papéis, a perda cai pela metade, para 3,25%. Esse percentual acaba sendo reduzido também pelo aluguel, e no final o investidor poderia ter um ganho em torno de 95% do CDI, diz Campos. "Mas isso só vale para quem sair antes do vencimento do papel e o vender a preço de mercado", lembra ele. "Quem ficar terá garantido o retorno acertado no ato da compra", diz. Na visão da Hedging-Griffo, porém, os fundamentos da dívida brasileira são bastante sólidos e sua volatilidade deve ser menor do que a da bolsa brasileira, diz Stuhlberger. Ele lembra que o país conta com um volume de reservas internacionais de US$ 60 bilhões, para uma dívida do governo em torno de US$ 80 bilhões. "Só não paga se não quiser", afirma, lembrando que a situação é mais confortável até que a da dívida interna. A tendência também é de que o governo reduza ainda mais essa dívida, para facilitar a vida do próximo governo. Até 2010, vencem cerca de US$ 20 bilhões em papéis do governo, que em boa parte devem ser pagos. "Trata-se de um processo, primeiro o governo reduziu a dívida interna em dólar a quase zero, depois passou a comprar dólar e reforçar as reservas e agora a próxima fase deve ser recomprar dívida de curto prazo no mercado internacional", afirma Stuhlberger. E, com menos papéis, o preço sobe e o investidor ganha. Não se trata de um fundo de curto prazo. "Se na primeira turbulência o cliente sacar vai perder." E faz as contas: "se o Global 40 pagar 5% ao ano entre juros e aluguel, ganhando metade, ou seja, 2,5%, correspondentes à parcela do fundo aplicada, o investidor poderia ter 35% de ganho além do CDI em 15 anos, um terço a mais do capital investido, fora os juros".