Título: O ideário econômico do candidato Alckmin
Autor: Célia de Gouvêa Franco
Fonte: Valor Econômico, 20/12/2005, Brasil, p. A2

Discretos, pouco conhecidos fora das suas áreas de atuação específicas, os principais assessores do governador paulista Geraldo Alckmin, especialmente os que compõem seu secretariado, começam agora a ser observados com maior atenção, diante do lançamento da sua candidatura à Presidência da República e do crescimento do tucano nas pesquisas de opinião. Na segunda-feira da semana passada, Alckmin declarou-se candidatíssimo ao Palácio do Planalto, e na quarta pesquisa CNI/Ibope sobre intenções de votos mostrou um avanço importante do seu nome junto ao eleitorado. De José Serra, também do PSDB e igualmente cotado para a disputa presidencial em 2006, a piada corrente diz que será ele mesmo o próprio ministro da Fazenda se voltar à Brasília como presidente. No caso de Alckmin, tão reservado quanto a maioria dos seus auxiliares, pouco se especula ainda sobre quem iria com ele para Brasília. Conforme a revista "Época" desta semana, Alckmin está tendo "aulas" de economia com próceres dessa área no PSDB, como os irmãos Mendonça de Barros e o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, mas fontes do próprio partido consideram pouco provável que a maioria deles aceite voltar ao governo federal - alguns porque saíram muito desgastados com o poder depois de experiências mais ou menos frustrantes no governo Fernando Henrique Cardoso, outros porque querem simplesmente continuar nas suas atividades no setor privado. É claro que é difícil resistir ao chamado de um presidente, e Alckmin certamente chamaria para seu governo economistas ligados ao PSDB mesmo que não tivessem uma vinculação direta com ele, como já fez há três anos, quando acolheu vários tucanos que ficaram sem postos no governo depois da eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mesmo assim, há quem considere que o atual secretário da Fazenda de São Paulo e ex-secretário do Tesouro Nacional na gestão FHC, Eduardo Guardia, tem o perfil que agrada a Alckmin e poderia ser uma aposta para ocupar um lugar de prestígio na eventualidade do governador paulista ser eleito presidente. Desde que assumiu o cargo em São Paulo, Guardia colocou em prática o que pode ser considerado o ideário econômico tucano por excelência, em especial no que se refere à política fiscal. Durante sua passagem pelo Tesouro Nacional, em 2002, Guardia teve vários embates com governos estaduais interessados em flexibilizar as normas da Lei de Responsabilidade Fiscal. Avesso a comentários sobre política, um dos seus raros comentários fora das questões econômicas foi exatamente sobre a possibilidade de o governo petista acabar sendo mais leniente na área fiscal - temor que se revelou, aliás, totalmente infundado com a manutenção de metas de superávit primário ainda mais duras do que no governo FHC.

Privatização voltaria a ser prioridade em Brasília

Logo depois da eleição, Guardia disse que via "com muita preocupação" a proposta do presidente eleito de renegociar as dívidas de Estados e municípios com a União. Segundo ele, a rolagem feita por 30 anos "já embute um subsídio bastante elevado" e uma mudança nessa regra acarretaria em novos custos para o Tesouro e comprometeria a Lei de Responsabilidade Fiscal. No governo paulista, Alckmin e Guardia têm tentado provar que, embora adeptos do rigor fiscalista, são também a favor de uma redução na carga tributária: já aprovaram uma série de cortes em alíquotas de impostos e mesmo assim a arrecadação do ICMS continua se elevando. Até novembro, a receita cresceu 4,1% em termos reais, este ano. Essa será certamente uma das bandeiras da campanha do governador em 2006, e explica grande parte do entusiasmo que sua candidatura provoca entre empresários. Apesar das promessas de campanha, é muito provável que este ano se encerre com novo aumento da carga tributária já que a arrecadação federal está crescendo em ritmo mais veloz do que o Produto Interno Bruto. Outra linha importante da gestão de Alckmin que prevaleceria em Brasília é um programa vigoroso de privatização, linha de trabalho que foi colocada de escanteio pelo governo petista. Fontes do PSDB gostam de citar que com a recente abertura de capital da Nossa Caixa, o governo paulista arrecadou R$ 953 milhões enquanto Brasília não consegue privatizar bancos estaduais.