Título: Dólar volta ao valor de junho de 2002
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 17/11/2004, Finanças, p. C2

Os investidores assistiram atônitos ontem à queda do dólar, que voltou ao menor nível desde 24 de junho de 2002, R$ 2,7860, sem atuação do Banco Central na ponta da compra. No dia, a queda foi de 0,18%, no mês, de 2,55% e no ano, de 4%. O movimento de desvalorização do dólar se dá contra todas as moedas há cerca de três meses, segundo calcula Alexandre Vasarhelyi, chefe da mesa de câmbio do ING. "Ontem, o euro voltou a concentrar as atenções, ficando próximo dos US$ 1,30, nível que deixa descontente os países da Europa", afirma. "Há uma grande pressão para os governos atuarem." A assessoria do presidente do BC, Henrique Meirelles, confirmou que a autoridade monetária não tem atuado no mercado de câmbio, mas lembrou corretamente que o BC não tem qualquer meta, plano ou objetivo de compra anunciado para este ano. Foi o Tesouro Nacional que, em setembro de 2003, anunciou que compraria US$ 5,5 bilhões para fazer pagamentos da dívida externa neste ano. Os US$ 5,5 bilhões foram comprados já no final do ano passado, mas por meio do Banco do Brasil. Por isso, integrantes do mercado interpretaram de forma incorreta que os objetivos anunciados pelo governo não haviam sido cumpridos. O próprio Meirelles veio à publico, em janeiro, para anunciar que o BC passaria a comprar dólares, mas sem qualquer meta numérica para os valores a serem comprados ou para as reservas internacionais, o caixa em moeda forte do país. Vasarhelyi calcula que o BC tenha comprado US$ 2,6 bilhões no início deste ano.

A queda no dólar ontem foi estimulada também pela perspectiva de alta de 0,5 ponto percentual, para 17,25% ao ano, nos juros básicos Selic na reunião do Comitê de Política Monetária que termina hoje, pois juros mais altos tornam os investimentos em reais mais atrativos. No boletim "Focus", divulgado pelo BC, a expectativa da taxa de câmbio para o final deste ano foi novamente reduzida, de R$ 2,93 na semana passada para R$ 2,90, enquanto a inflação para 2005 ficou estável em 5,90% e para 2004 subiu de 7,18% para 7,19%. Na Bolsa de Mercadorias & Futuros, os juros projetados pelos contratos de vencimento em abril, os mais negociados, foram para 17,763% ao ano, ligeiramente abaixo dos 17,794% ao ano projetados na sexta-feira.

EUA têm inflação recorde no atacado

No cenário externo, os investidores foram surpreendidos pela inflação ao produtor nos Estados Unidos, o PPI. O mercado esperava alta de 0,6% em outubro, mas o índice subiu 1,7%, a maior alta desde 1990, impulsionada, principalmente, pelos combustíveis, o que deixa claro a pressão dos preços do petróleo. O núcleo do PPI teve aumento de 0,3%, quando o mercado esperava 0,1%. Com isso, os investidores passaram a apostar em uma alta mais forte nos juros básicos americanos para conter a inflação. As taxas dos títulos do Tesouro americano de vencimento em dez anos subiram para 4,208% ao ano, alta de 0,018 ponto percentual, e os preços das ações caíram em Nova York. A Bolsa de Valores de São Paulo acompanhou o movimento de Nova York e o Índice Bovespa, das ações mais negociadas, caiu 1,09%, para fechar a 23.772 pontos. A briga entre comprados e vendidos em opções de Telemar e Petrobras também ajudaram na queda. Do total negociado na Bovespa, de R$ 1,77 bilhão ontem, R$ 527.862.301,00 foram decorrentes do exercício de opções. O risco-Brasil, medido pelo índice EMBI do JP Morgan, ficou estável, a 435 ponto básico às 20h, enquanto o C-Bond, o título da dívida externa mais negociado, teve alta de 0,06% em seus preços, para 100,09% do valor face.