Título: Encontrar comprador para o Santos pode ser difícil, dizem especialistas
Autor: Maria Christina Carvalho e Altamiro da Silva Junio
Fonte: Valor Econômico, 17/11/2004, Finanças, p. C2

Encontrar um comprador para o Banco Santos pode não ser tão fácil como indicam os advogados do escritório de Sérgio Bermudes, que representa o atual controlador, Edemar Cid Ferreira. Ainda ontem Marcelo Lopes, do escritório de Bermudes, ao informar que os advogados pretendem marcar uma audiência com o interventor, Vânio Cesar Aguiar, na quinta-feira, disse que venda do Banco Santos "é uma discussão que está avançando e existe concretamente". E arrematou: "Seria bom para todos, inclusive para os investidores". Enquanto alguns analistas dizem que o Santos pode atrair os grandes bancos do sistema financeiro, outros, sem se identificar, dizem que a instituição tem pouco o que possa interessar ao mercado.

"O Banco Santos é uma casca de ovo. Só mudará de controle se cair no colo ou houver muita pressão do Banco Central", disse o diretor de um banco estrangeiro bastante ativo na intermediação de fusões e aquisições. Ele argumentou que o middle market, área de atuação do Santos, é um negócio sem tecnologia especial, dominado por várias instituições, diferentemente da cobiçada especialização de financiamento ao consumo, que tinham a Losango ou o Zogbi, por exemplo. A última aquisição de um banco de middle market, a do BNL pelo Unibanco, custou a ter um desfecho. E o BNL tinha uma carteira de crédito sem problemas e recheada de multinacionais entre os clientes - uma avaliação bem diferente da percepção do mercado em relação à carteira do Santos. Do lado do passivo, também não há muito apelo porque os clientes do Banco Santos, predominantemente grandes investidores institucionais, em sua maioria já aplicam nos grandes bancos. Além disso, sairão chamuscados e retraídos da intervenção. O especialista em direito do setor financeiro, o advogado Jairo Saddi, afirmou que nenhuma instituição financeira que sofreu intervenção conseguiu voltar ao mercado. No máximo, sobreviveu como empresa de participação. Levantamento junto a dados do Banco Central confirmam a afirmação. Os sete bancos que sofreram intervenção após o Plano Real acabaram sendo liquidados quase um ano depois. A lista começa pelo Econômico, que teve a intervenção decretada em agosto de 1995 e foi liquidado em agosto de 1996. Como se isso tudo não bastante, há a evidente discussão a respeito do preço. Enquanto o diretor de fiscalização do Banco Central (BC), Paulo Sérgio Cavalheiro, diz que o Santos precisa ser capitalizado em R$ 700 milhões para abrir as portas, os advogados do controlador afirmam que o rombo é bem menor, de R$ 180 milhões. Já para Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Rating, "a carteira do Banco Santos pode ser interessante para um banco que queira ter uma maior participação no middle market". Rodrigues destacou entre os possíveis interessados o Bradesco, o Itaú e o Unibanco. Operações com pequenas e médias empresas foram importantes nos resultados de todos esses bancos. Mas, o Bradesco informou que não procedem as avaliações do mercado. O Itaú informou "que não comenta boatos de mercado"; e o Unibanco não se manifestou. Um ativo que pode ser vendido para o Santos fazer caixa é o título patrimonial da corretora. A corretora do Banco Santos não opera na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) desde 1997, apesar de ser membro da bolsa e ter os títulos patrimoniais que permitem operações no pregão. Segundo a assessoria da Bovespa, estes títulos podem ser vendidos para terceiros no mercado. A Bovespa não fala de valores mas, segundo fontes do mercado, um título completo (que inclui a possibilidade de ser membro da CBLC e 12 operadores no pregão) chega a valer entre R$ 6 milhões e R$ 8 milhões no mercado. A Bovespa só pode leiloar os títulos patrimoniais caso seja decretada a liquidação financeira do banco. A corretora também é associada na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), onde um título pode valer entre R$ 3 milhões e R$ 5 milhões, dependendo do mercado em que está operando.