Título: Casseb deixa a presidência do BB
Autor: Rodrigo Bittar
Fonte: Valor Econômico, 17/11/2004, Finanças, p. C3

Troca de comando Palocci diz que saída já havia sido combinada e não tem motivação política

Cássio Casseb deixou ontem a presidência do Banco do Brasil. O pedido de demissão foi aceito pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que indicou Rossano Maranhão Pinto para exercer a presidência interinamente. Em breve comunicado à imprensa, Palocci fez elogios à gestão de Casseb e garantiu que não sofreu qualquer pressão para que o presidente do banco fosse trocado. "Foi uma decisão pessoal", resumiu o ministro. Apesar de ter sido indicado interinamente, Maranhão Pinto deverá, segundo assessores do governo, ser efetivado no cargo mais adiante. O presidente da BB DTVM, Nelson Rocha, amigo de Palocci, ex-presidente do Banco de Ribeirão Preto, foi um nome cotado para assumir o comando do Banco do Brasil. Mas Rocha não foi o escolhido exatamente por ser amigo muito íntimo de Palocci. Questionado se Maranhão Pinto poderia ser efetivado na presidência do banco, o próprio ministro sinalizou que sim: "Se eu acho que se ele pode ser presidente interino, ele também pode ser presidente", afirmou Palocci. Desde que assumiu, em janeiro do ano passado, Casseb foi envolvido em algumas polêmicas. A primeira ocorreu no fim do primeiro semestre deste ano, quando o Banco do Brasil comprou e distribuiu vários ingressos para um show da dupla Zezé di Camargo e Luciano, cuja renda seria destinada à aquisição da nova sede do PT, em São Paulo. Casseb não participou diretamente do episódio e chegou a admitir que a instituição havia errado ao não devolver os ingressos, que custaram R$ 70 mil. O diretor de marketing do BB, Henrique Pizzolato, responsável direto pela compra, acabou tendo sua diretoria esvaziada e passou a prestar contas mensalmente das decisões tomadas por seu setor. Na última semana de julho, Casseb foi alvo de denúncias sobre supostas irregularidades na prestação de informações sobre a existência de suas contas e movimentações financeiras no exterior, não declaradas ao Fisco, tendo como base planilhas enviadas pela Procuradoria de Nova York à Comissão Parlamentar de Inquérito do Banestado. O então presidente do BB tinha duas contas em Nova York não declaradas e teria deixado de informar à Receita US$ 593,8 mil nas declarações entre 1999 e 2002. Casseb defendeu-se dizendo que todos os seus bens estão declarados ao Fisco, mas suas explicações nunca foram consideradas suficientes pelo governo. Palocci não fez comentários sobre esses episódios e garantiu que havia combinado com Casseb, em janeiro do ano passado, que o período de presidência no BB não passaria de dois anos. "O Cássio Casseb me cobrou um compromisso: ele me disse, quando assumiu, que não poderia ficar no banco durante todo o governo - seria um período de um ano e meio, dois anos no máximo. Ele me cobrou isso no mês passado e eu pedi a ele que estendesse um pouco seu período de presidência; ele foi concordando e discordando e insistiu nesse fim de semana que eu cumprisse o acordo", detalhou o ministro. "Inclusive quero que ele continue no conselho de administração do banco", acrescentou. O convite foi aceito por Casseb no fim da tarde. Palocci disse que a "boa condução" de Casseb no BB poderia ser avaliada a partir de uma comparação entre as ações do BB, que subiram 268,17% entre janeiro de 2003 e novembro de 2004, enquanto o Índice Bovespa foi valorizado em 126,80% no período. Casseb não quis falar com os jornalistas. "Se não falei nesses dois anos, não seria agora que eu iria falar", resumiu. Provocado, ele admitiu que vai "sentir muitas saudades da lojinha", referindo-se, em tom de brincadeira, ao Banco do Brasil. Maranhão Pinto, que substitui Casseb, era vice-presidente de negócios internacionais e atacado do BB desde 2001. Ele ingressou na instituição em 1976. O executivo é mestre em ciências econômicas pela University of Illinois, mestre em economia política pela Universidade de Brasília e pós-graduado em administração financeira pela Icat/AEUDF (DF). Foi professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais - Ibmec (DF) e da Universidade Católica de Brasília. A vice-presidência de negócios internacionais passará a ser ocupada pelo diretor da área comercial do banco, Francisco Lima Neto. Já Cássio Casseb é graduado em engenharia, iniciou sua carreira em 1976 no BankBoston. Em 1979, foi para o Banco Francês & Brasileiro, no qual foi diretor financeiro no Brasil e diretor comercial para a Região Noroeste. Seguiu para o Banco Mantrust SRL em 1988, onde foi vice-presidente financeiro e vice-presidente executivo. Em 1993, tornou-se vice-presidente financeiro do Citibank. Assumiu a presidência da Credicard em 1997.