Título: Alencar e Amorim divergem sobre data de retirada de tropas do Haiti
Autor: Paulo de Tarso Lyra e Daniel Rittne
Fonte: Valor Econômico, 12/01/2006, Brasil, p. A2

O vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, disse ontem que não descarta a possibilidade de as tropas brasileiras que estão a serviço da força de paz da ONU no Haiti retornarem ainda este ano ao Brasil. Mas não quis definir uma data. "A missão está voltada para o trabalho de consolidar a democracia". O vice-presidente lembrou que as eleições haitianas estão marcadas para o dia 7 de fevereiro, podendo haver segundo turno. "Até março, eles terão um presidente eleito. É natural que as tropas fiquem mais algum tempo, até que o governo organize o país". A declaração do vice-presidente, porém, não recebeu o aval do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. "Isso me parece uma manifestação otimista com relação à evolução dos acontecimentos no Haiti", disse Amorim. O chanceler brasileiro ressaltou que todas as decisões são tomadas em conjunto com os demais ministérios envolvidos na missão e com o presidente da República. Segundo fontes do governo brasileiro, a hipótese que vem sendo cogitada em relação ao Haiti é que a missão permaneça no país, pelo menos por mais um ano após a eleição de um novo presidente. Ontem, depois das homenagens ao ex-comandante das força de paz no Haiti, general Urano Bacellar, encontrado morto sábado, no hotel em que residia, em Porto Príncipe, José Alencar anunciou, na Base Aérea de Brasília, o nome do general Jeannot Jansen da Silva Filho, vice-chefe do Departamento de Logística do Comando do Exército em Brasília, como a segunda indicação do governo brasileiro para comandar a força da ONU. Alencar já havia confirmado na terça que o outro candidato era o general José Elito Carvalho Siqueira, comandante da 6 Região Militar. "Os dois têm condições de fazer um trabalho à altura do que o Brasil está fazendo no Haiti", elogiou o vice-presidente. Fontes do Itamaraty confirmaram que o nome de Elito foi apresentado, informalmente, em duas "conference calls", no sábado e na segunda, conduzidas pelo ministro das Relações Exteriores, o que lhe concede a posição de favorito do governo brasileiro. Mas a ONU, por questões de praxe, exigiu a apresentação de um segundo nome. "O Brasil tem o interesse de indicar rapidamente um nome, para garantir a manutenção à frente das forças de paz no Haiti", confirmou um assessor do Ministério das Relações Exteriores. "Não há interesse da ONU em prolongar o tempo em que as tropas estarão sem um comando efetivo no Haiti", confirmou a assessoria do Itamaraty. A pressa do governo brasileiro tem como objetivo frear o ímpeto de outros países - a Jordânia seria um deles - em pleitear o comando das tropas de paz. Uma fonte diplomática confidenciou que, além de garantir visibilidade internacional, a chefia de missões desse porte garante um aporte considerável no orçamento militar. O Instituto Médico Legal de Brasília apresentou um laudo ontem afirmando que o general Urano Bacellar cometeu suicídio, hipótese que não foi endossada nem pelo Exército nem pelo Itamaraty. Na Base Aérea, o comandante do Exército, general Francisco Albuquerque, classificou a morte de Bacellar como uma "perda precoce, irreparável e difícil de ser aceita". (Com agências noticiosas)