Título: Economista defende a ampliação de programas
Autor: Rodrigo Bittar
Fonte: Valor Econômico, 17/11/2004, Finanças, p. C4

O governo deveria ampliar o repasse de linhas de crédito e o apoio à rede de organizações não governamentais (ONG) e cooperativas de crédito e microcrédito. A opinião é do economista Ricardo Abramovay, Chefe do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP). Para ele, foi um erro o BNDES ter cortado repasses de recursos para aquelas organizações no ano passado, limitando a cobrança de juros de 2% ao mês. "O esquema mais inteligente (para proporcionar crédito à população de baixa renda) é subsidiar as ONGs, cooperativas de crédito e mesmo bancos que conseguem se aproximar desses nanoempreendedores", afirma Abramovay, que está lançando hoje um livro sobre as finanças de comunidades pobres. Segundo Abramovay, as organizações de microcrédito e cooperativas são capazes de atingir de forma mais eficiente o público alvo, ao mesmo tempo em que "obedecem a critérios econômicos" e estimulam o desenvolvimento de empreendimentos produtivos sustentáveis. "A margem de crescimento de investimentos do nanoempreendedorismo pode ser significativa se for ofertado crédito de maneira inteligente". Na opinião deste economista, são também estas instituições capazes de alavancar o atendimento bancário para a oferta de outros serviços financeiros. O livro "Laços Financeiros na Luta Contra a Pobreza" (Annablume Editora, 248 páginas, R$ 15,00) foi organizado por Abramovay, com a participação de pesquisadores e economistas, e apresentação do Professor-Titular do Departamento de Economia da FEA/USP e Secretário Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho, Paul Singer. Resultado de uma pesquisa de campo realizada entre abril e maio de 2003 em municípios dos sertões do Cariri (CE) e Pajeú (PE) o livro discute a oferta e a demanda de produtos financeiros pela população de baixa renda. O trabalho mostra que mesmo sem acesso aos bancos, a população mais pobre tem uma intensa vida financeira, que não se resume a tomar crédito, mas inclui poupança e aquisição de seguros. No entanto, suas necessidades são supridas dentro das "ligações sociais", muitas vezes pautadas por vínculos de subordinação e exploração. O dinheiro é guardado nas mãos de comerciantes, sem qualquer remuneração e o patrimônio é acumulado através de animais, que podem ser vendidos e transformados em dinheiro rapidamente em caso de necessidade.