Título: Inflação sobe, mas por fatores sazonais
Autor: Arnaldo Galvão
Fonte: Valor Econômico, 12/01/2006, Brasil, p. A4

Dois índices de preços divulgados ontem mostraram uma inflação um pouco mais pressionada, mas por fatores pontuais ou sazonais. A primeira prévia de janeiro do Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M) da FGV subiu 0,4%, bem mais que os 0,06% do mês anterior, principalmente devido ao aumento dos preços agrícolas no atacado. Já o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fipe registrou alta de 0,46% na primeira quadrissemana do mês, um pouco acima do 0,29% da quadrissemana anterior. Os grupos vestuário, transportes e despesas pessoais foram as maiores fontes de pressão. No IGP-M, os produtos agrícolas no atacado subiram 1,6%, levando o IPA, que tem peso de 60% no indicador, a registrar alta de 0,43%, bem acima da deflação de 0,07% do mês anterior. O economista Adriano Lopes, do Unibanco, explica que a alta se deveu em grande parte à alta dos preços da soja e cereais, cujas cotações tiveram aumentos significativas no mercado internacional. A soja subiu 5,74%. O coordenador de análises econômicas da FGV, Salomão Quadros, explica que uma mudança na ponderação do IPA agrícola contribuiu para a alta da inflação do IGP-M. Quem mais ganhou peso foi justamente a soja, cujas cotações dispararam. Antes da mudança, a soja respondia por 1,47% do IPA; com a modificação, esse percentual subiu para 4,49%. Carlos Thadeu de Freitas Filho, do Instituto de Economia da UFRJ, previa um IGP-M de 0,32%, por isso não se surpreendeu tanto como resultado anunciado pela FGV. "Se não fosse a mudança de peso da soja e da carne, o índice teria variado só 0,20%". Segundo ele, no IPA agrícola a FGV deu mais peso aos itens vegetais que aos animais e o que está subindo são os vegetais. Lopes lembra que os produtos industriais no atacado ficaram bem comportados, com alta de 0,07%, o que indica que nos próximos meses não não deverá haver pressão sobre os preços de produtos manufaturados no varejo. A primeira prévia do IGP-M mostra a variação de preços entre os dias 21 e 30 do mês anterior. Os preços ao consumidor - que respondem por 30% do IGP-M - subiram 0,41%, pouco mais que o 0,34% da prévia anterior. O grupo que teve a maior aceleração foi educação, saúde e recreação, principalmente devido ao item passagem aérea, que subiu 12,37%, uma pressão claramente sazonal, disse Quadros. Em 12 meses, o IGP-M acumula alta de apenas 1,21%. O economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, diz que o ano já começa com uma inflação alta em janeiro, ao avaliar os números do IGP-M e da Fipe. Nas suas projeções, as taxas serão elevadas este mês, devendo se manter em fevereiro e recuando em março. No IPC da Fipe, o grupo vestuário subiu 1,07%, mas não preocupa os analistas por ser uma alta esperada para essa época do ano. A alta de 10,9% do álcool pressionou o grupo de transportes, que aumentou 0,8%. Os preços de despesas pessoais cresceram 1,21%, com grande contribuição do item viagens, com 14% de alta. Outro fator sazonal, segundo Lopes, o que indica um cenário tranqüilo para a inflação nos próximos meses. Para janeiro, é normal que os indicadores subam mais, devido a pressões como as de vestuário e educação. Hoje será divulgado o IPCA de dezembro, importante por ser o indicador de referência do regime de metas. A projeção de Thadeu é de uma taxa de 0,45%, o que elevaria o IPCA acumulado no ano para 5,78%. Elson Telles, da Corretora Concórdia, e Solange Srour, economista chefe da Mellon Global Investments, estimam uma taxa mensal entre 0,3% e 0,35%, com o ano fechando próximo de 5,7%. Para Cunha, este resultado é bom, pois ficará próximo da meta de 5,1% perseguida pelo BC.