Título: Tesouro quer resgatar título prefixado de curto prazo
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 17/11/2004, Finanças, p. C10

Dívida Idéia é recomprar boa parte das LTNs que vencem em janeiro

O secretário-adjunto do Tesouro Nacional, José Antônio Gragnani, disse que até o fim do ano a instituição pretende recomprar uma boa parte dos títulos prefixados que circulam em mercado, com o objetivo de reduzir a forte concentração de vencimentos desses papéis no início de 2005. Somente em janeiro, expiram cerca de R$ 39 bilhões em Letras do Tesouro Nacional (LTNs), o que significa nada menos do que 29,5% do total de títulos prefixados em mercado. Em abril, os vencimentos previstos também são pesados, com R$ 43 bilhões, ou 32,6% do total. "Sabemos que a concentração de vencimentos é grande em janeiro, por isso estamos começando a trabalhar desde já", afirmou Gragnani. Segundo ele, os leilões de recompra de LTNs realizados nas duas últimas semanas, que retiraram cerca de R$ 2,5 bilhões de mercado, fazem parte dessa estratégia. Se for mantido o ritmo dessas operações, o Tesouro poderá retirar um volume adicional de R$ 10,5 bilhões de LTNs nas sete semanas que restam até o final do ano, o que significaria uma redução de cerca de cerca de 30% dos vencimentos de janeiro. Ainda assim, restaria uma concentração relativamente alta de títulos prefixados em janeiro - da ordem de R$ 30 bilhões. Gragnani disse considerar perfeitamente possível renovar o estoque de papéis previsto para vencer naquele mês, mas ressalta que - se as condições de mercado forem adversas - o Tesouro poderá se valer de seu colchão de liquidez para resgatar as LTNs. "Temos volume suficiente de dinheiro para resgatar os papéis, se for o caso", afirmou o secretário. A forte concentração de papéis prefixados no início de 2005 foi criada por dois fatores. Primeiro, ao fato de o Tesouro Nacional ter decidido agrupar os vencimentos nas chamadas cabeças de trimestre (janeiro, abril, julho e setembro) para estimular os negócios no mercado secundário e dar maior liquidez aos papéis. Outra razão para a concentração foi o ensaio de crise ocorrida em abril passado - provocado pela incerteza sobre juros americanos, alta das cotações do petróleo e dúvidas sobre o crescimento chinês -, que obrigou o Tesouro a colocar papéis mais curtos. Desde meados de 2003, o Tesouro vem mantendo uma estratégia de forte colocação de títulos prefixados, que em setembro passaram a corresponder a 17,46% da dívida mobiliária federal, ante 9,05% verificados no mesmo mês de 2003. O efeito colateral dessa estratégia, apontam alguns analistas econômicos, foi o encurtamento do prazo médio da dívida em títulos do governo federal - pois o Tesouro está trocando, proporcionalmente, títulos pós-fixados com prazos mais longos por papéis prefixados mais curtos. Neste ano, o prazo médio encolheu de 24,79 meses, em janeiro, para 21,6 meses, em setembro passado. Gragnani reconhece que houve um encolhimento nos prazos, mas chama a atenção para a melhora do perfil da dívida sob o ponto de vista da "duration". Esse é um indicador que mostra a sensibilidade dos títulos a um aumento das taxas de juros básicas. Quando maior a "duration", mais eficaz a política monetária. Do ponto de vista do Tesouro, uma maior "duration" significa que as despesas com encargos da dívida ficam menos sensíveis à variação dos juros. De janeiro a setembro, a "duration" dos títulos do Tesouro subiu de 10,83 para 11,48 meses. No plano de financiamento da dívida pública de 2005, sinalizou Gragnani, o Tesouro pretende dar continuidade ao progressivo aumento da dívida prefixada. Contará com a ajuda da regra que taxa progressivamente as aplicações financeiras de acordo com o prazo de vencimento, que começa a vigorar no ano que vem. "Cada vez mais a ampliação da dívida pública prefixada dependerá da mudança da cultura dos poupadores", afirmou. "As LTNs oferecem hoje uma remuneração extremamente atrativa, mas, devido a fatores culturais, uma grande parcela dos investidores ainda prefere aplicar em títulos pós-fixados."