Título: PMDB prepara-se para candidatura própria, mas conversa com PT e PSDB
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 12/01/2006, Política, p. A6

Os planos do PMDB para a sucessão presidencial ficarão mais claros na próxima semana, quando os principais dirigentes e governadores do partido desembarcam em Brasília para fortalecer o compromisso com a realização das prévias no início de março. A direção partidária já considera irreversível a candidatura própria à Presidência e o partido prepara-se, na pior das hipóteses, para ser o fiel da balança no segundo turno. "O PMDB decidirá a eleição no segundo turno", sentenciou um integrante da cúpula partidária. Por terem consciência de sua força político-eleitoral é que os dirigentes da legenda mantêm conversas com PT e PSDB. A liderança de Orestes Quércia nas últimas pesquisas de intenção de votos divulgadas para o governo de São Paulo e o cenário em que pelo menos 16 candidatos majoritários do partido têm chances concretas de vitória nos Estados credencia o PMDB como o melhor cabo eleitoral de 2006. Nem mesmo os aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como o presidente do Senado, Renan Calheiros, cogitam o apoio ao PT. "Não existe a hipótese de o PMDB dar o vice a ninguém. Não há outra hipótese que não a candidatura própria", afirmou Renan ontem, em conversa com jornalistas. Se há convergência sobre a candidatura própria, não há em relação ao nome do candidato, admite Renan. "O nome mais competente é o que une mais o partido", definiu ele. Esse perfil afastaria o ex-governador Anthony Garotinho, nome que não agrada à ala - até então governista - do PMDB. Para os governistas do PMDB, um bom nome seria o do governador do Paraná, Roberto Requião. O nome do governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, que antes era visto com reservas, começa a crescer no partido. Já a candidatura de Requião é ironizada por adversários. Já é conhecida no Congresso como "o Hugo Chávez do PMDB". O nome do presidente do Supremo Tribunal Federal, Nélson Jobim, não é carta fora do baralho. Jobim, no entanto, não mostra disposição para enfrentar as prévias. Concordaria com a candidatura desde que aclamado pelo partido. Atitude improvável numa legenda como o PMDB, com vários segmentos que disputam o poder. Rigotto, Requião e o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, estão em Brasília na próxima semana. Rigotto formalizará no partido a intenção de concorrer à Presidência da República. Quércia também terá reuniões com membros da Executiva Nacional. O desembarque dos pemedebistas na capital tem um objetivo: definir de forma consensual a data das prévias. "Se o PMDB conseguir unir todas as suas correntes, entra com muito peso no processo eleitoral", concluiu o presidente do Senado. Para ele, se a candidatura própria é um consenso, o partido deve lutar para evitar confrontos sobre a data de realização das prévias. "Brigar pela data das prévias agora é tiro no pé", disse Renan. O adiamento da data para o final de março esbarra nas pretensões eleitorais de Garotinho, Rigotto e Requião. Isso porque o prazo final para a desincompatibilização é 31 de março. Os governadores e políticos que ocupam cargos públicos querem ter a garantia de que serão candidatos antes de se afastar dos postos. O mais provável é que a data seja adiada em algumas semanas, mas será mantida em março. "Uma mudança na data da prévia só será possível se todos pagarem o preço", disse Renan Calheiros. O presidente do Senado considera que o quadro eleitoral ainda permanece indefinido. A decisão do PSDB, por exemplo, poderá fortalecer ou não a candidatura própria do PFL, diz ele. A disputa em São Paulo é outro fator de conflito entre os partidos. Para o PMDB, Orestes Quércia terá que ser consultado tanto pelo PFL quanto pelo PSDB. A postulação do PMDB à Presidência não é fator de constrangimentos, apesar de o partido ocupar hoje três ministérios. Para Renan, "na relação do PMDB com o governo sempre foi público o nosso projeto de poder e a possibilidade de candidatura própria".