Título: Sozinho, governador parte para a costura política de sua candidatura
Autor: Cristiane Agostine e Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 12/01/2006, Política, p. A7

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), está sozinho para articular a sua candidatura à Presidência da República. No embate interno contra o prefeito paulistano, José Serra, pela candidatura tucana, Alckmin não tem uma tropa própria no comando central do partido como o seu oponente, majoritária na bancada tucana da Câmara. Se não tem operadores, conta com aliados estratégicos: o presidente do partido, Tasso Jereissati, e a maior parte dos governadores tucanos, interessados em criar uma alternância de poder dentro do PSDB, dominado pelo grupo político formado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e por Serra nas últimas três eleições. É um trunfo que não o coloca em vantagem na disputa interna. Segundo interlocutores diretos do governador, Alckmin está consciente que seu destino irá se definir neste mês de janeiro, caso consiga atrair para o seu lado o governador mineiro, Aécio Neves, e o PFL e garantir a neutralidade de Fernando Henrique. "Abriu-se uma guerra que não vai se definir em março, mas nas próximas três semanas" Caso não tenha sucesso, o mecanismo formal de consulta que o PSDB deve estabelecer, que envolve uma pesquisa quantitativa de opinião pública, uma qualitativa e uma consulta aos diretórios do partido deverá consagrar a candidatura de Serra. No círculo próximo ao governo estadual, admite-se como quase impossível a missão de ultrapassar Serra em intenções de voto até março. "Tudo isso será usado apenas como pretexto para se fazer uma aclamação a Serra, que já começou a costurar apoios no ano passado", comentou um dos interlocutores, para quem "o uso de pesquisa teria valor se fosse avaliado, pelas pesquisas qualitativas, qual o peso negativo para o eleitorado nacional de Serra deixar a prefeitura de São Paulo com quinze meses de governo e depois de se comprometer publicamente a não fazê-lo". Em seu esforço pessoal para fazer a costura, Alckmin encontrou-se ontem com o presidente do PFL, o senador Jorge Bornhausen (SC), e deverá se encontrar na próxima semana com o governador mineiro Aécio Neves. Com Tasso - que está no exterior - conversou longamente no mês passado, logo depois de perceber que Serra estava abrindo uma dianteira na corrida pela candidatura. O sinal de alerta acendeu depois que o então pré-candidato pefelista à Presidência da República, Cesar Maia, declarou apoio público ao prefeito. Com os pefelistas, Alckmin espera garantir o apoio tendo respaldo em seu partido para alianças regionais que preservem as esferas de poder do PFL. Prevê-se conversas aprofundadas sobre Pernambuco e Bahia, mas não será admitida a hipótese de uma candidatura própria do PFL em São Paulo. Segundo interlocutores do governador, o apoio pefelista ao candidato tucano à sucessão de Alckmin seria uma concessão impossível. Com Aécio, a previsão é de uma conversa ainda mais difícil: supõe-se que o governador mineiro exigirá compromissos de não concorrer à uma eventual reeleição em 2010, um tema com o qual Alckmin não gostaria de se comprometer. Falta a Alckmin a tropa fiel, articulada e ativa de Serra, sobretudo com a bancada no PSDB da Câmara. Eduardo Paes (RJ), que é secretário-geral da sigla, o líder Alberto Goldman (SP), o candidato a líder Jutahy Júnior (BA) e o presidente do Instituto de pesquisas do partido, Sebastião Madeira (MA), são os mais aguerridos. A eles deve se juntar o deputado licenciado Aloysio Nunes Ferreira Filho. Em viagem de férias, o secretário estadual da Casa Civil, Arnaldo Madeira, está afastado das articulações e não irá participar da campanha do governador. Tesoureiro-adjunto do PSDB, Madeira não é mais visto como uma voz de Alckmin na Executiva Nacional do partido. A solidão do governador tem um lado positivo, segundo seus interlocutores: permitiria que Alckmin ofereça a aliados postos-chave em sua estrutura de campanha, enquanto Serra ocuparia estes espaços com a legião que o acompanha. Se candidato, Alckmin tem praticamente definido apenas o coordenador administrativo de campanha, com a responsabilidade de cuidar do caixa eleitoral: seria o secretário de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia, João Carlos de Souza Meirelles. A operação política seria entregue a um aliado, e não a um soldado. É o esforço pessoal em busca do tempo perdido nas articulações que leva Alckmin a continuar cogitando em renunciar ao cargo antes do fim de março, prazo de desincompatibilização. O grande dilema é abrir mão de inaugurar um conjunto de obras previsto para aquele mês, entre elas duas estações de metrô. O momento mais provável para a renúncia seria a primeira semana de março, após o Carnaval.