Título: Alckmin busca aliança nacional com PFL
Autor: Cristiane Agostine e Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 12/01/2006, Política, p. A7

Eleições Na disputa interna do PSDB, Serra diz que é imune às pressões do governador de São Paulo

Cauteloso desde que Geraldo Alckmin anunciou que sairá do governo de São Paulo para disputar a Presidência, José Serra disse, ontem, que não existe possibilidade de o governador pressioná-lo. Em contrapartida, Alckmin deu mais um passo na consolidação de sua pré-candidatura e acertou detalhes de uma possível aliança entre PSDB-PFL com o presidente do PFL, Jorge Bornhausen. Serra estava resguardado desde o fim da semana passada, sem aparições públicas, e ontem procurou evitar qualquer tipo de crítica ao colega. O prefeito de São Paulo despistou quando questionado se considerava que Alckmin fora precipitado e, sem citar diretamente a possibilidade de ser candidato pelo PSDB, disse que se manifestaria a respeito em um momento posterior. "O que o Alckmin falou não vejo como pressão. É um direito e não tenho nada a acrescentar a esse respeito", disse. "Do meu ângulo, não há nada para eu me manifestar neste momento". Ontem, na inauguração de reformas de um hospital municipal, Serra criticou ações do governo federal no recapeamento de estradas, mas evitou falar sobre as divergências internas de seu partido. "Começamos a tapar buraco desde o primeiro dia. Não esperamos chegar no quarto ano de governo para fazê-lo". O lançamento aberto da pré-campanha de Alckmin irritou também outro tucano, o governador de Minas, Aécio Neves, que voltou a criticar a atitude do governador paulista. "Não podemos nos dar o luxo de ter rompantes de individualismo. Nós temos uma possibilidade rara de voltar a governar o Brasil, mas a pré-condição fundamental é a nossa unidade", disse Aécio, em entrevista à rádio "Jovem Pan". "O projeto do partido estará sempre acima dos projetos individuais. Quando isso não ocorreu, o partido perdeu eleições". Em resposta, Alckmin ponderou que sua candidatura não é um rompante: "Eu sou uma homem de partido. O fato de expor minhas idéias e de deixar claro que sou candidato vai até ajudar o partido a escolher quem irá disputar as eleições", disse, na abertura do Fórum Nacional dos Secretários de Estado de Transportes. Alckmin também criticou o governo federal. Afirmou que a operação tapa-buraco é uma ação "band-aid", pois irá durar pouco e não repara de verdade as estradas. "É preciso fazer obras definitivas e lembrar que dinheiro público é dinheiro de todos e não de ninguém", cutucou. Sobre os comentários do Fundo Monetário Internacional (FMI) a respeito da condução econômica do país, o governador disse que concorda com a instituição e que ela está puxando a orelha do PT. "O governo federal está muito conservador, estamos perdendo oportunidade de crescer mais", avaliou. O governador disse ainda que como quer ser candidato e acredita em seu potencial, nada mais natural do que trabalhar pela candidatura. Sem a mesma discrição de Serra no tratamento de sua pré-candidatura, Alckmin já falou que seu ministério não será um "paulistério", disse que seu vice provavelmente será do Nordeste e reforçou as costuras políticas com o PFL para a disputa. Na sede do governo paulista, sentou-se com os pefelistas Jorge Bornhausen, Cláudio Lembo, vice-governador, e Gilberto Kassab, vice-prefeito de Serra, para manifestar seu interesse em repetir nas eleições estadual e presidencial a aliança PSDB-PFL. Bornhausen relutou em afirmar se o PFL fará aliança nacional com os tucanos e defendeu a hipótese de lançar um candidato próprio, o prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia. Uma das moedas de troca para apoiar o candidato tucano é que o PSDB apóie o candidato lançado pelo PFL. O mais cotado é o presidente da Associação Comercial de São Paulo, Guilherme Afif Domingos. "Se houver aliança nacional, temos de fazer uma reengenharia estadual", ponderou Bornhausen. O pefelista negou as especulações de que a cúpula do PFL prefere o nome do prefeito José Serra ao de Alckmin.