Título: Governo negocia mínimo de R$ 350 e centrais pedem reajuste em março
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 12/01/2006, Política, p. A8

As conversas do governo com as centrais sindicais evoluíram e o valor de R$ 350 para o salário mínimo está praticamente garantido, o que representa quase 17% de reajuste sobre os atuais R$ 300. Mas ainda não há acordo. Os representantes dos trabalhadores querem os R$ 350 a partir de março e também pretendem que, para os próximos anos, o salário mínimo seja aumentado em janeiro. Outro ponto da discórdia, por enquanto, é a tabela do Imposto de Renda (IR) das Pessoas Físicas. As centrais insistem em um reajuste de 10%, mas o governo ofereceu apenas 7%. O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, revelou que o mínimo de R$ 350 já é "quase proposta de governo", mas seria uma grande vitória dos trabalhadores a antecipação para janeiro da data base para os reajustes anuais. "Sugerimos que quem faz política no governo interferisse mais do quem faz economia", defendeu o sindicalista. Paulinho também disse que o ministro chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Luiz Dulci, afirmou na reunião de ontem que a proposta das centrais será levada diretamente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Poderia ser muito bom para o governo em um ano eleitoral", disse. O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, afirmou que governo e centrais certamente chegarão a um acordo e ele deverá ser anunciado no Palácio do Planalto, em audiência marcada para a quinta-feira da semana que vem. Tanto o ministro Marinho, quanto João Felício, informaram que antecipar para março um salário mínimo de R$ 350 traria um forte impacto no Orçamento, aproximadamente R$ 1 bilhão em 2006 (na verdade, é maior que isto, ver matéria abaixo). Mas admitiu que o mesmo valor, em maio, é "algo mais real". Marinho também apoiou a idéia de reajustar o mínimo sempre em janeiro, mas não adiantou se isso seria possível para 2007. Marinho disse que os ministros Antonio Palocci (Fazenda), Paulo Bernardo (Planejamento), Dilma Rousseff (Casa Civil) e Nelson Machado (Previdência) participam de todas as discussões sobre o aumento do mínimo, mas ressaltou que a decisão é do presidente Lula. O ministro do Trabalho também não parece preocupado com o impacto que um mínimo de R$ 350 teria nos municípios. Disse que os prefeitos sabem que o governo federal tem compromisso com a valorização do mínimo e também alertou que a sociedade brasileira terá de discutir se o país deve ter tantos municípios. Ela fez uma clara contestação à autonomia política de distritos que dependem exclusivamente de rapasses estaduais e federais para sustentarem suas administrações. O uso eleitoral do reajuste do mínimo foi negado por Marinho. O ministro afirmou que campanha eleitoral não fez parte das discussões com as centrais sindicais e que, por outro lado, não há certeza de que um bom aumento significaria apoio à reeleição de Lula. Dois representantes de centrais sindicais chegaram a dizer ao ministro do Trabalho ontem que, sem acordo na manhã da quinta-feira que vem, sequer participam da audiência com Lula.