Título: Ex-diretor de Furnas explica contratos, mas não convence parlamentares da CPI
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 12/01/2006, Política, p. A8

O ex-diretor de Gestão Corporativa de Furnas, Rodrigo Botelho Campos, deu explicações consideradas pelos parlamentares como pouco convincentes à CPI dos Correios na manhã de ontem. Em depoimento à sub-relatoria do IRB, Campos reiterou que todos os seus contratos foram firmados com acompanhamento do departamento jurídico da estatal e negou qualquer envolvimento com o PTB e o presidente do partido, Roberto Jefferson. Recaem sobre ele suspeitas de participação em suposto esquema montado para arrecadar dinheiro para partidos políticos. Pelo menos três contratos de Furnas estão sendo investigados pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que já apontou algumas irregularidades. Campos é filiado ao PT. O possível relacionamento de Campos com Jefferson viria de um acordo firmado entre Furnas e a corretora Assurê, de Henrique Brandão, supostamente ligado ao PTB e a seu presidente. A CPI encontrou uma correspondência de Campos destinada a Luiz Eduardo Pereira Lucena, diretor comercial do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB). Na carta, datada de 23 de junho de 2003, Campos designa a Assurê "como única administradora dos excedentes de seguros, para fins de resseguros no mercado internacional". A empresa seria, assim, a corretora de Furnas para as tratativas com o IRB. Curiosamente, a Acordia (corretora internacional representada no Brasil pela Assurê) ainda não estava credenciada no IRB. E, àquela altura, uma correspondência como a enviada por Campos não tinha sentido. O credenciamento da Acordia só saiu no dia 6 de agosto de 2003. Essa antecipação é considerada suspeita pela CPI. "Ele claramente favoreceu a Assurê", diz o sub-relator do IRB, deputado Carlos Willian (PMDB-MG). "Todos os contratos de seguros foram licitados em Furnas", afirmou Campos. Segundo ele, foi criada uma comissão interna da estatal, com a participação de todas as diretorias, na qual foram definidas as regras para a nova licitação e os novos valores do seguro. "O preço estipulado era de R$ 15 milhões. Reduzimos para R$ 9 milhões. O resseguro foi barateado", justificou. Ele nega qualquer favorecimento à Assurê. "A carta foi assinada por mim, mas redigida pela área técnica. Ela dava preferência à Assurê apenas para os excedentes de seguros", afirmou. Segundo o ex-diretor, ele foi informado pela assessoria técnica que esse tipo de indicação é normal. Willian considerou a explicação "pouco convincente". O ex-diretor teve de explicar também um contrato firmado pela estatal com a Caixa de Assistência de Empregados de Furnas e Eletronuclear (Caefe). A CPI tem informações de que a empresa repassou R$ 28 milhões para a Caefe. A diretoria de Campos repassou R$ 20 milhões desse montante. Segundo auditoria do TCU, as responsabilidade assumidas por Furnas no contrato firmado são irregulares. "E a Caefe não prestou contas do serviço. O TCU teve muitas dificuldades de coletar informações", afirmou o sub-relator. Segundo Campos, o acordo foi assinado antes da chegada dele à estatal. "Todos os contratos foram amparados pela consultoria jurídica", completou. (TVJ)