Título: Investidor externo reduz exposição no setor
Autor: André Vieira
Fonte: Valor Econômico, 12/01/2006, Empresas &, p. B5

Papel e celulose Citigroup retira Aracruz de suas recomendações e Alliance diminui participação na VCP

Depois de registrar o pior desempenho da década na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) no ano passado, as ações das empresas brasileiras de papel e celulose entraram o ano castigadas pelos investidores estrangeiros diante da perspectiva de pouca mudança no comportamento do câmbio. O Citigroup retirou a Aracruz, maior fabricante de celulose, de seu "focus list", uma espécie de livro de recomendações das ações brasileiras entregue aos clientes pela maior instituição financeira do mundo. O banco decidiu diminuir o peso da indústria de transformação e incluir empresas como a Natura, de cosméticos, e a TAM, aviação aérea, no lugar de Aracruz, como alvo preferido para os investidores. Em outro movimento, a Alliance Capital Management, um dos maiores administradores de fundos de investimentos, anunciou que reduziu sua participação minoritária no capital da Votorantim Celulose e Papel (VCP). A administradora, que gerencia mais de US$ 500 bilhões em recursos, informou que sua participação em ações preferenciais na companhia brasileira diminuiu de 13,4% para 7,7%. Pela cotação de ontem, essa redução significa cerca de R$ 135 milhões em papéis da companhia. As ações das quatro grandes empresas do setor (Aracruz, VCP, Suzano e Klabin) tiveram uma desvalorização média de 14,5% na Bovespa em 2005, diante de uma alta de 27,7% do índice da bolsa (IBovespa). As ações da VCP perderam mais de um quarto de sua valorização no ano passado e, neste ano, já recuaram 3,7%. A Votorantim disse, por intermédio de sua assessoria, que o preço de sua ação "não reflete a geração de caixa saudável da empresa, apesar do cenário cambial." E acrescentou que distribuiu R$ 280 milhões em dividendos em dezembro, resultando num retorno de 5% aos investidores que confiaram nos papéis da companhia. Em relação a decisão do Citigroup, a Aracruz não se manifestou. A Aracruz começa hoje a temporada de divulgação dos resultados das empresas brasileiras do quarto trimestre, consolidando o ano de 2005. Os analistas projetam para a companhia um lucro ao redor de R$ 200 milhões para o último trimestre do ano - queda superior a 50% em relação ao mesmo período do ano anterior, quando foi recorde. Para o ano inteiro de 2005, o lucro de Aracruz deve ficar praticamente estável, em torno de R$ 1,15 bilhão, segundo analistas ouvidos pelo Valor. A valorização cambial foi o principal entrave para o avanço dos resultados das empresas de papel e celulose, com vocação exportadora. Em 2005, o real se valorizou 14,2% frente ao dólar. E, diante das perspectivas em relação ao real para 2006, os analistas não vêem grandes mudanças. "Este ano deve ser parecido com o ano passado", disse a analista Catarina Pedrosa, do Banif Primus, que classificou 2005 apenas como "regular". Ela projeta um ganho de R$ 179 milhões para Aracruz no quarto trimestre. Mas a culpa, segundo os analistas, não se deve exclusivamente ao câmbio. "As empresas vêm perdendo margens, os preços da celulose no mercado internacional estão estáveis, com tendência de queda, e a demanda no mercado interno está fraca", avalia o analista Marcos Paulo Fernandes, da Fator Corretora. Ele acredita que o câmbio sairá de um patamar de R$ 2,30 para R$ 2,40 a R$ 2,50 em 2006, mas avalia que o efeito será praticamente anulado pela ligeira queda esperada nos preços internacionais da celulose, cotados em dólar, que estão hoje na casa de US$ 550 a US$ 600 a tonelada. "A preocupação maior está depois de 2006, quando começam a entrar novas capacidades de produção de celulose", disse Fernandes. No mercado de celulose de fibra curta, a especialidade das empresas brasileiras, estão previstas as entradas de fábricas da Botnia (900 mil toneladas/2007), Ence (500 mil toneladas/2008) e Suzano (1 milhão de toneladas/2007). O economista da MS Consult, Fábio Silveira, avalia que as exportações de papel e celulose devem manter-se estáveis neste ano, repetindo o desempenho de US$ 3,2 bilhões registrados no ano passado. "Deve acontecer um ligeiro crescimento no volume a ser exportado, mas com uma queda nos valores em função de um declínio suave nos preços." Em 2004, as exportações de papel e celulose tinham crescido 10%.