Título: Petrobras investe US$ 18 bilhões no óleo e gás de Santos
Autor: José Rodrigues
Fonte: Valor Econômico, 12/01/2006, Empresas &, p. B5

Energia

A Petrobras apresentou ontem o tão esperado plano de desenvolvimento da produção de petróleo e gás na Bacia de Santos, que vai receber investimentos de US$ 18 bilhões, até 2010. Os recursos da estatal e seus sócios serão gastos para produzir e transportar a produção no mar - dos campos de Mexilhão, BS-500, Coral, e Merluza, entre outros - , por meio de dutos de transporte até o continente e na construção de estações de processamento de gás natural. Os investimentos vão permitir a produção de 100 mil barris ao dia de petróleo e 30 milhões de metros cúbicos de gás, que estarão disponíveis aos consumidores de São Paulo, Estado que responde pelo maior consumo de gás do Brasil. Em 2010, a produção de gás em Santos vai se equiparar ao volume atual de importação da Bolívia. Atualmente, Santos produz cerca de 4 mil barris ao dia de óleo e 1,2 milhão de m³ de gás natural. Segundo a Petrobras, os investimentos programados para a Bacia de Santos vão responder por 36,5% do total de US$ 49,3 bilhões que a empresa aplicará no país, além de US$ 7,1 bilhões no exterior, no mesmo período. No segundo semestre de 2008, o fornecimento de gás para a região Sudeste, originário da Bacia de Santos, será acrescido de 12 milhões de m³ de gás diários, com a entrada em produção comercial do pólo Mexilhão. Anunciado ontem pelo presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, em solenidade realizada em um centro de convenções de Santos, com a presença de cinco secretários de governo do Estado de São Paulo, a decisão de investir com mais peso na bacia de Santos representa uma descentralização das ações antes focadas na bacia de Campos, afirmou o diretor de Exploração e Produção, Guilherme Estrela, da Petrobras. A área, com 352 mil km², possui 10 campos de óleo e gás, nos quais atuam 14 companhias, inclusive a Petrobras, que tem parcerias com onze delas. As primeiras perfurações com resultados, na região, ocorreram em 1970 e desde aquele ano, até o presente, os investimentos somaram US$ 780 milhões. A partir de agora, serão de, na média, US$ 1,8 bilhão por ano. Ao fazer a apresentação do plano diretor para o desenvolvimento da produção de gás natural e petróleo para a bacia de Santos, Gabrielli de Azevedo anunciou a criação de uma unidade de negócios da empresa na cidade, que abrangerá também a unidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul. Disputada de forma intensa por outras cidades litorâneas brasileiras, há pelo menos seis anos, a unidade vai centralizar os estudos técnicos em torno da bacia, com a contratação de cerca de 100 profissionais, entre engenheiros, geólogos e administradores. A instalação está prevista ainda para este ano. As repercussões econômicas para a região, dessas unidades, segundo interpretou Estrela, derivam da instalação de representações de empresas que têm ligações diretas ou indiretas com a produção dos campos petrolíferos e de gás. Abre-se uma nova cadeia de serviços, com utilização da infra-estrutura local, a exemplo das instalações do porto de Santos, um dos fatores que pesaram para a decisão da Petrobras. Outro foi a constatação de que 52% das áreas sob concessão estão em território paulista, contra 35% no Rio de Janeiro, 7% em Santa Catarina e 6% no Paraná. Tanto os investimentos na Bacia de Santos, quanto a abertura do escritório da Petrobras na cidade, vão significar a inserção do Estado de São Paulo, o mais rico economicamente do país, no quadro energético brasileiro, como produtor de óleo e gás , cuja produção e instalações hoje estão centralizadas na Bacia de Campos, atendida pela infra-estrutura construída na região de Macaé (RJ). Depois do Espírito Santo, São Paulo ganhou um pólo com as descobertas da Petrobras na Bacia de Santos. Atualmente, São Paulo abriga quatro das onze refinarias da Petrobras e tem 2.034 postos de combustíveis com a marca BR e consome 11 milhões de m³ de gás por dia, o que equivale a 25% da demanda brasileira. Mas não tinha nenhuma relevância no mapa nacional do petróleo. O secretário paulista de Meio Ambiente, José Goldenberg, um dos cinco presentes ao evento, disse ao Valor que São Paulo "espera a viabilização, o mais rápido possível, da entrada do gás de alto-mar por Caraguatatuba, subir a serra e entrar na malha de distribuição do Estado. A meta é de converter a frota de veículos que usam óleo diesel por gás. Somente nas regiões metropolitanas de São Paulo, Campinas e Santos há 25 mil ônibus movidos a diesel". Essa transformação equivaleria à economia do equivalente a 50 mil barris de diesel diários, nos cálculos do secretário. Em termos nacionais, o diretor de Gás e Energia da Petrobras, Ildo Sauer, disse não ter conhecimento de outro bem de consumo que cresça à taxa média de 10% ao ano, como o do gás natural e anunciou a meta brasileira de produção de 100 milhões de m³ por dia do produto, até 2010. "A demanda tem subido com os preços do barril do petróleo a US$ 60", comparou. Mesmo com essa oferta, o presidente da Petrobras descartou a hipótese de que o país venha a se tornar exportador de gás. Ao contrário, pelos estudos técnicos da empresa, poderá ainda haver necessidade de aumento das importações. Nesse sentido, Gabrielli de Azevedo acredita em entendimentos positivos com o futuro presidente da Bolívia, Evo Morales, com quem terá encontro nos próximos dias. "Brasil e Bolívia têm interesses comuns, de países e povos; portanto, temos toda convicção de soluções viáveis (nas relações comerciais)". Os investimentos nacionais da Petrobras, nos próximos 10 anos, deverão gerar 10 mil empregos diretos na empresa e 622 mil postos de trabalho no país. (Colaborou Cláudia Schüffner, do Rio)