Título: Juro em queda acelera alta do dólar
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 12/01/2006, Finanças, p. C2
O mercado futuro de juros da BM&F intensificou ontem as apostas de que o Banco Central poderá apressar o ritmo de queda da taxa Selic depois dos sinais de que a atividade econômica está mais fraca do que o desejável para um ano eleitoral. Os contratos mais curtos cercam a possibilidade de o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, cuja primeira reunião do ano ocorre na semana que vem, já ampliar para 0,75 ponto percentual o tamanho do corte do juro básico. O Copom começou a reduzir a taxa em setembro, mediante uma baixa de 0,25 ponto. Na reunião de outubro, acelerou o declínio para 0,50 ponto e manteve o compasso em novembro e dezembro. As projeções de CDI para a virada deste mês e para a virada do trimestre já suportam duas quedas de 0,75 ponto. O contrato mais curto, com liquidação no dia 1º de fevereiro, caiu ontem de 17,60% para 17,56%. E foi o mais negociado do pregão. O giro financeiro avançou de R$ 3,06 bilhões na terça-feira para R$ 17,17 bilhões. O movimento crescente resulta do interesse dos bancos de evitar perdas caso o BC decida desconsiderar as sinalizações de manutenção do conservadorismo monetário contidas na ata da reunião de dezembro do Copom e no último Relatório de Inflação. A queda nos prognósticos de juros ocorreu apesar de terem sido divulgados ontem índices elevados sobre o andamento da inflação presente. Em sua primeira quadrissemana do ano, o IPC FIPE subiu a 0,46%, ante 0,29% do fechamento de dezembro. E o primeiro decêndio do IGP-M acusou inflação de 0,40%, ante 0,06% no mesmo período de dezembro. Os repiques já estavam "no preço". Por isso, a inflação "velha", a ser revelada hoje com a divulgação do IPCA de dezembro pelo IBGE, terá mais poder de influenciar as previsões para o próximo Copom do que o "soluço" atual. Os economistas de bancos aguardam o IPCA, previsto entre 0,35% e 0,40%, para fechar o call pré-Copom. Antes dele, há quase um "empate técnico" entre as apostas para um corte de meio ponto e as para uma baixa mais ousada de 0,75 ponto.
Cresce aposta de corte ousado da Selic
O crescimento da ala dos analistas que já antevê chance de um desaperto monetário imediato fez com que, ontem, o dólar navegasse na mão oposta à do risco-país. Geralmente, o câmbio acompanha o sobe-e-desce do risco Brasil. Ontem, não. Enquanto o dólar fechou em firme alta de 0,97%, cotado a R$ 2,2840, o risco-país tombou 1,77%, para novo piso histórico, 277 pontos-base. Apesar de o dólar ter se mantido em alta durante a maior parte do dia, o BC não aliviou as suas intervenções. Fez as duas tradicionais. Vendeu ao meio-dia a oferta total de 8,8 mil contratos de swaps cambiais reversos e retirou do mercado futuro US$ 416 milhões. E, à tarde, comprou dólares a R$ 2,277, quando a moeda já estava em alta de 0,84%. A valorização do dólar registrada nos dois últimos dias, quando cresceu a perspectiva de redução acelerada da Selic, mostra a estreita correlação entre juro básico e câmbio. Se a expectativa é de diminuição da rentabilidade oferecida pela Selic, os especuladores externos se retraem.