Título: PT decide aliança com o PMDB
Autor: Campos, Ana Maria
Fonte: Correio Braziliense, 11/05/2010, Cidades, p. 35

No próximo fim de semana, delegados regionais do Partido dos Trabalhadores discutirão se aceitam a coligação com os peemedebistas na corrida pelo Palácio do Buriti. A votação será acirrada, pois os petistas estão rachados

Cadu Gomes/CB/D.A Press - 24/5/09

Chegou a hora da verdade. No próximo fim de semana, o PT vai decidir formalmente se aceitará o PMDB, grande adversário nas últimas cinco eleições, como parceiro na disputa ao Executivo local. Os petistas discutirão em encontro regional, no auditório da Legião da Boa Vontade (LBV), o arco de alianças para o pleito de outubro. Os delegados da legenda vão dizer se aceitam ou não no Distrito Federal as siglas que seguirão com a candidatura de Dilma Rousseff (PT) à Presidência da República. Na prática, será uma decisão sobre a possibilidade de ter um peemedebista como vice na chapa encabeçada por Agnelo Queiroz. O nome mais provável é o do presidente regional do PMDB, Tadeu Filippelli.

A discussão vai atear fogo no encontro do PT. A expectativa é de que haja um racha entre os 350 delegados pela controvérsia da proposta inédita na capital do país. A Articulação, maior corrente do partido, e todas as tendências que formavam o antigo Campo Majoritário do PT seguem a orientação nacional e defenderão uma aliança ampla, ou seja, que seja permitida a parceria com o PMDB. ¿Queremos formar uma grande frente contra (Joaquim) Roriz¿, afirma o presidente do PT-DF, Roberto Policarpo.

Desse conjunto de correntes considerado à direita do PT, apenas o grupo liderado pelo deputado distrital Chico Leite é contra a aliança com o PMDB. ¿Faço política por princípios e temos muitas diferenças que não mudaram¿, explica o petista. A esquerda do partido, que tem como principais expoentes o líder da bancada do PT na Câmara Legislativa, Paulo Tadeu, e a ex-vice-governadora Arlete Sampaio, se reúne amanhã para tomar uma decisão sobre o assunto.

Na quinta-feira, a corrente Movimento PT, do deputado federal Geraldo Magela, fecha posição. Em Goiânia, onde a tese de aliança entre petistas e peemedebistas foi aprovada em 2008 na campanha municipal, o apoio da tendência de Magela, liderada em Goiás pelo deputado estadual Luís Cesar Bueno, foi decisivo numa disputa acirrada que deixou o partido rachado. Com o PMDB, maior partido do país e com maior representação na Câmara dos Deputados, o PT ganha tempo de televisão e estrutura, mas pode ter problemas para se explicar à militância.

De acordo com petistas, no DF, a ideia enfrenta grande rejeição nas bases da legenda. Há uma resistência em seguir na campanha com o grupo que já foi do ex-governador Joaquim Roriz, hoje no PSC, e também com os peemedebistas sob investigação na Operação Caixa de Pandora: os deputados distritais Eurides Brito, Benício Tavares e Rôney Nemer, além de Fábio Simão, ex-chefe de gabinete de José Roberto Arruda, todos apontados pelo ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa como beneficiários de mesada em troca de apoio político.

O número 350 Quantidade de delegados regionais do PT

Para saber mais União goiana

A primeira aliança formal entre PT e PMDB em Goiânia (GO), onde os partidos eram adversários ferrenhos como no DF, ocorreu na eleição municipal de 2008 e foi costurada pelo ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares. A união foi aprovada em votação acirrada no encontro regional do PT, com 116 votos favoráveis e 115 contrários. Prevaleceu a possibilidade de fazer composições com legendas da base do governo Lula contra a tese da candidatura própria à prefeitura de Goiânia.

O PT que estava fora do poder aceitou indicar o candidato a vice na chapa encabeçada por Íris Rezende, o ex-deputado estadual Paulo Garcia. Neste ano, o partido voltou a aprovar uma aliança com o peemedebista para o governo de Goiás. O dote foi a prefeitura de Goiânia. Garcia herdou o cargo com a desincompatibilização de Íris para disputar a eleição de outubro.

Senado em disputa

As candidaturas ao Senado Federal também serão tema de debate do encontro regional do PT no fim de semana. Os delegados regionais vão decidir se o partido aceita abrir mão de uma das vagas em nome de uma aliança ampla com legendas da base do governo Luiz Inácio Lula da Silva. O deputado Geraldo Magela (PT) mantém disposição de concorrer ao mandato de oito anos. A tendência dele, o Movimento PT, vai defender a tese de que o partido só estará unido com a dobradinha entre Agnelo Queiroz e Magela na chapa majoritária.

Agnelo e Magela disputaram a indicação do partido para a candidatura ao governo em prévias. O deputado federal foi derrotado, mas mostrou força na legenda ao obter 44% dos votos, mesmo com o apoio do Palácio do Planalto, da direção nacional do PT e dos quatro deputados distritais petistas a Agnelo. A eventual candidatura de Magela ao Senado também promete despertar controvérsia. A Articulação defenderá uma aliança com o senador Cristovam Buarque (PDT) e com o deputado federal Rodrigo Rollemberg (PSB), conforme negociações dos partidos em torno da candidatura de Dilma Rousseff (PT) à Presidência da República.

A aliança com o PDT está praticamente fechada. Mas a segunda vaga, para Rollemberg, ainda é incerta. O PSB trata o assunto como prioridade. Coloca a questão como uma sinalização de boa vontade do PT diante do recuo da candidatura do deputado Ciro Gomes à Presidência. Mas, ao reivindicar uma das vagas, o PT poderá perder o PDT, uma vez que Cristovam Buarque tem preferência por uma parceria com Rollemberg. (AMC)