Título: Proposta está ultrapassada, diz BNDES
Autor: José Roberto Campos
Fonte: Valor Econômico, 12/01/2006, Finanças, p. C8

A defesa da eliminação do crédito direcionado no Brasil é uma velha discussão, a qual o diretor-gerente do FMI, Rodrigo Rato, parece não ter somado novos argumentos, disse ao Valor o diretor de planejamento do BNDES, Antonio Barros de Castro, atualmente exercendo interinamente a presidência do banco. Ao tomar conhecimento das declarações de Rato, Castro disse: "Não acho problemático que este senhor dê suas opiniões e até mesmo palpites. O que incomoda é que lhe dêem tanta repercussão". Mas considerou, no mínimo, curioso o fato de Rato vir reviver a tese da extinção do crédito direcionado que tem sido debatida no país, nesse início de 2006, levando em conta que os juros reais, "que bateram em incríveis 13%", decorrentes da política monetária do Banco Central, "mataram o crescimento econômico do país em 2005". Para Castro, "a curva de juros e a de atividades no ano de 2005 tiveram comportamento absolutamente normal, não teve jaboticaba nenhuma. No que toca ao BNDES, esta tese estava errada", afirmou, rechaçando a idéia de que os empréstimos do banco poderiam ter contribuído para reverter esse cenário. Segundo Castro, os argumentos favoráveis ao desmonte do crédito direcionado têm a ver com o fato - antes de mais nada - de que a economia suporta juros altíssimos e, em alguns casos, até cresce, como aconteceu em 2004, apoiada em recursos direcionados. "No fundo mesmo, o que parece preocupar essas pessoas, principalmente no que se refere ao componente BNDES, é que continuam supondo que o crédito mais barato tem um efeito 'perverso' do ponto de vista de alocação de recursos. É como se a alocação de recursos, não sendo feita livremente pelo mercado, saísse errada. Isto é que está no fundo dessa posição", afirmou. Esse ponto para Castro é ininteligível, pois se há uma coisa evidente no Brasil nos últimos anos é que a microeconomia local se tornou robusta, flexível, muito competitiva, como indicam os grandes superávits comerciais e a alta produtividade. "Apesar de uma demanda global quase sempre medíocre, as empresas foram investindo e aprimorando sua capacidade de disputar mercados. O que faltou foi demanda. Não houve problemas na alocação de recursos, para a qual o banco colaborou de forma inteligente, facilitando o investimento, barateando-o, através de suas várias linhas de crédito desde que foi criado", disse. Castro defendeu o crédito direcionado, principalmente a cota do BNDES, pois atribui em boa parte a ação do banco, como instituição de fomento, o fato de a economia brasileira ter navegado na turbulência macroeconômica "incrível" dos últimos 20 anos sem oscilações proporcionais, sem ter sucumbido. "O investimento em particular mostrou pouca sensibilidade à turbulência e isto porque o BNDES atuou e atua como um grande estabilizador. O empresário sabe que a TJLP (taxa de juro de longo prazo que corrige os empréstimos do BNDES, inferior à Selic) não dá pinote. Pode ser relativamente favorecida, mas é de grande estabilidade". Segundo ele, a curva da TJLP é mais branda do que qualquer outra curva de juro. "O BNDES ajudou a estabilizar expectativas e isto nos livrou dos fundos de poço que nós não chegamos a conhecer na escala vivida por outros vizinhos latino americanos", disse.