Título: "Tenho orgulho de não ter diploma"
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 20/12/2005, Internacional, p. A8

Nascido em 1959, em Isallavi - pequena comunidade no Departamento (Província) de Oruro, mais de 400 km ao sul de La Paz -, Evo Morales é filho de índios aymara. A família, de agricultores pobres, não tinha luz e água encanada em casa. Quatro dos seis irmãos de Morales morreram jovens. Morales não é casado, mas tem dois filhos, de mulheres diferentes. É apaixonado por futebol e detesta gravatas - costuma dizer que não sabe sequer dar o nó. Apesar de ter sido considerado um bom estudante por seus professores, Morales abandonou a escola na segunda série do colegial, aos 17 anos, para fazer o serviço militar. "Tenho orgulho de não ter um diploma", disse certa vez em entrevista a uma estação de rádio. Na juventude, teve várias profissões: cortador de cana, azulejista, sorveteiro, padeiro e pastor de lhamas e ovelhas. Também chegou a participar de uma banda musical como trompetista. Em 1980, uma seca que afetou gravemente a agricultura fez com que a família decidisse mudar-se para a região de Chapare, onde há muitas plantações de coca. Em 1983, Morales tornou-se dirigente sindical, assumindo o cargo de secretário de esportes do sindicato de plantadores de coca. Sua carreira sindical continuou a subir e, em 1988, conquistou o cargo de secretário-executivo de um sindicato regional de plantadores de coca. Em 1995, fundou o Instrumento Político para a Soberania dos Povos (IPSP), que acabou transformando-se no Movimento ao Socialismo (MAS). Em 1996, galgou mais um degrau ao tornar-se secretário-executivo das seis federações de plantadores de coca de Cochabamba. No ano seguinte, candidatou-se à Câmara dos Deputados pelo MAS. Eleito deputado, não abandonou o cargo na direção sindical. Em janeiro de 2002, foi acusado de assassinato de três policiais que morreram em confrontos com cocaleiros. Destituído pelo Congresso de sua imunidade parlamentar para ser julgado, Morales escapou da condenação pela inconsistência das acusações e por uma grande mobilização popular. O processo acabou por tornar Morales uma figura de expressão nacional, impulsionando sua candidatura à Presidência naquele ano. A campanha do líder sindical ainda teve outro apoio inadvertido: o embaixador americano deu declarações à imprensa de que os EUA adotariam represálias econômicas se o candidato vencesse a eleição. A desastrada intervenção revoltou parte da população e acabou dando força à candidatura de Morales, que ficou em segundo lugar no pleito. (Com agências internacionais)