Título: Histórica, eleição só não afasta a crise
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 20/12/2005, Internacional, p. A8

A apuração da eleição na Bolívia ainda não confirmava, na noite de ontem, a vitória do esquerdista Evo Morales já no primeiro turno. Seu partido, o MAS tinha pouco menos de 50% dos votos. Mas ninguém no país duvida de que Evo será o novo presidente, devido a seu desempenho eleitoral bem acima do previsto. Como o segundo colocado, Jorge Quiroga, já admitiu a derrota, pode nem haver votação de confirmação no Congresso. A eleição é histórica para o país, cuja população é composta por quase dois terços de indígenas. Até 1951, eles não tinham sequer direito de votar. Só a partir das eleições de 2002, na qual Evo ficou em segundo lugar, que candidatos índios passaram a ser eleitos. Agora, com Evo, chegam à Presidência. Mas, apesar da vitória clara de Evo, a crise política não está definitivamente contornada no país. Evo terá de buscar apoio de outros partidos políticos para governar, o que o obrigará a negociar. Por outro lado, sofrerá forte pressão de movimentos sociais para cumprir o que prometeu, além de toda a expectativa gerada com a sua eleição e que não poderá ser atendida. Ontem mesmo, a Central Obrera (principal central sindical do país), que mantém uma relação tensa com Evo, anunciou que dará até abril para que o novo presidente cumpra as promessas como a nacionalização do setor de gás. Líder indígenas radicais dizem que com Evo só há uma troca de pele, mas não de modelo de governo.