Título: Mais recursos para formar profissionais
Autor: Erilene Araujo
Fonte: Valor Econômico, 17/11/2004, Qualidade no Trabalho, p. F4

Investimentos Com R$ 2,7 bilhões, o Sesi e o Senai vão capacitar mais de 2 milhões de pessoas este ano

Depois de quase nove anos de aperto, o mercado de cursos de educação básica e desenvolvimento profissional de trabalhadores da indústria brasileira ganha fôlego com o reaquecimento da economia. Só este ano, o Serviço Social da Indústria (Sesi) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) vão investir R$ 2,7 bilhões na capacitação de mais de dois milhões de pessoas. A meta de 2005 não está concluída, mas deve crescer em relação a este ano, porque há expectativa de ampliação de até 12% na receita das instituições. A principal fonte de recursos do Sesi e Senai é a contribuição feita pelas indústrias com base na folha de pagamento. O Sesi fica com 1,5% do total e o Senai leva 1%. Quanto mais a indústria cresce, maior a receita. A retomada do crescimento econômico este ano permitiu, por exemplo, que o Sesi aderisse ao projeto do governo de alfabetizar 20 milhões de pessoas até 2005. "Com o projeto Sesi por um Brasil alfabetizado vamos alfabetizar 2 milhões de pessoas", conta o diretor-superintendente do Sesi, Rui Lima do Nascimento. Com a execução deste e de uma série de outros projetos educacionais, a indústria brasileira ficará mais produtiva e competitiva. "Até dois anos atrás, o trabalhador brasileiro tinha, em média, quatro anos de escolaridade, enquanto os dos países vizinhos tinham praticamente o dobro da escolaridade. É difícil ter uma indústria competitiva quando os trabalhadores têm um nível educacional baixo", completa Nascimento. O aperto orçamentário verificado nos últimos anos não comprometeu os cursos oferecidos. É o que garante a diretora de Operações do Sesi, Mariana Raposo. "Com a oscilação da capacidade de desenvolvimento industrial amargamos uma queda na receita. Mas conseguimos garantir a oferta e a qualidade dos cursos com a melhoria dos processos de gestão. Some-se a isso a entrada de recursos adicionais com o atendimento de uma clientela que não é a nossa", diz. Ela acrescenta que não é possível estimar o volume de recursos arrecadados com a prestação de serviços para os parceiros não industriais. Em 2003, o total de matrículas efetuadas nos cursos oferecidos pelo Sesi ultrapassou 955 mil. Foram 296,2 mil (30%) de alunos trabalhadores da indústria, 3,4 mil (1%) dependentes e 658,7 mil (69%) de pessoas da comunidade. O número de professores e de turmas formadas girou em torno de 25,6 mil, cada. Entre os trabalhadores e seus dependentes, o maior afluxo situa-se nos segmentos da 5ª à 8ª séries (43,6%) e do ensino médio (32%). Já as matrículas da comunidade correspondem, no segmento alfabetização, a 22,2% das vagas. Cerca de 15% ficam com as vagas da 1ª à 4ª séries, 37,5% da 5ª à 8ª séries e 25,2% do ensino médio. O total de parceiros no mesmo ano - entre empresas, órgãos governamentais, universidade e ONG´s - chegou a 2.270. O Senai também driblou as dificuldades ampliando a carteira de clientes fora do segmento industrial. Com um orçamento de R$ 1,3 bilhão, a entidade é hoje a maior rede de educação profissional da América Latina e já inspirou muitos países vizinhos, em especial na América do Sul, na implantação de uma rede semelhante à brasileira. O Senai desenvolve projetos de cooperação técnica no Caribe, África e Ásia. De acordo com a diretora de Operações do Senai, Regina Torres, o papel da entidade no desenvolvimento de recursos humanos para o parque industrial brasileiro é expressivo: 36,9 milhões de pessoas se matricularam em um dos seus cursos. No ano passado, 1,9 milhão de brasileiros passaram pelas salas de aula. Mais de 1,8 mil programas, em 28 áreas, foram oferecidos nas 765 unidades fixas e móveis da instituição, distribuídas em todos os Estados do país. O Senai é uma entidade socialmente responsável. Só no primeiro semestre deste ano, o total de programas oferecidos, nesta área, somou 690, contra 715 durante todo o ano de 2003. Foram 413 voltados para comunidades carentes, 27 para jovens em liberdade assistida, 14 para meninos de rua (crianças e adolescentes), nove para dependentes químicos e do alcoolismo, sete para idosos, seis para detentos e 162 para uma clientela múltipla. Há, ainda, atendimento a uma clientela especial, a exemplo de deficientes visuais, auditivos, mentais e físicos. Entre 2000 e 2004, foram atendidas 12,2 mil pessoas com este perfil.