Título: Uma "sombra" brasileira no gabinete de Pascal Lamy
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 20/12/2005, Especial, p. A12

Se há algo que não falta ao novo diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, é informação sobre o Brasil e a América do Sul. Boa parte dessas informações vem pelas mãos - e relatos - do brasileiro Victor do Prado, chefe de gabinete adjunto de Lamy. Durante a conferência ministerial da OMC, na semana passada, Victor, como é conhecido em Genebra, era figura constante nas imagens dos telões espalhados pelo centro de convenções de Hong Kong, sentado atrás de Lamy ou do responsável pela direção das sessões plenárias. Longe da câmera, também ladeava o chefe nas acaloradas reuniões da chamada "sala verde", o grupo dos negociadores mais influentes. Na sede da OMC, tem gabinete ao lado do de Lamy. Diplomata de carreira, formado em direito pela USP, foi o braço direito do ministro de Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia no governo Fernando Henrique Cardoso. "Ele acompanha a OMC desde a Rodada Uruguai, seguiu de perto as conferências de Cingapura, em 1996, e de Seattle, em 2001", lembra o ex-chefe Lampreia. "A formação de advogado deu a ele uma visão macro de questões políticas, e grande habilidade para os detalhes, os históricos das discussões." Há três anos na OMC, Victor foi convidado por Lamy um mês antes da posse do novo diretor-geral. Segundo conta o próprio Victor a amigos, o estilo informal do francês faz com que ambos tenham alcançado, em dois meses, uma proximidade que o brasileiro, por causa da severa hierarquia no Itamaraty, só conquistou com Lampreia após anos de trabalho lado a lado. As qualidades descritas pelo ex-ministro ajudaram a ligação entre Victor e Lamy: o novo diretor-geral da OMC é um trabalhador compulsivo, e recorre com freqüência à ajuda dos técnicos, e de seus auxiliares do gabinete, ao preparar-se para as reuniões. O brasileiro, que cuida da administração do gabinete de Pascal Lamy, acompanha as negociações e tudo relacionado à América Latina, garante ter descoberto, surpreso, que o Brasil tem, hoje, nas negociações comerciais, papel mais importante do que imaginava, quando olhava esse cenário pelo lado de fora da OMC. (SL e AM)