Título: Furnas deixa usina Santa Cruz fora do leilão por falta de gás
Autor: Cláudia Schüffner
Fonte: Valor Econômico, 20/12/2005, Empresas &, p. B8

Energia Estatal investiu R$ 600 milhões para converter a térmica, que utilizava óleo, e R$ 16 milhões no gasoduto

Apesar de ter faltado 4,5% do total necessário para completar toda a demanda das distribuidoras em 2009 no leilão de energia realizado na última sexta-feira, Furnas Centrais Elétricas lamenta não ter conseguido oferecer energia da termoelétrica Santa Cruz, instalada no Rio de Janeiro. A térmica foi modernizada e hoje tem capacidade de gerar 350 megawatts (MW) usando gás natural e pode operar em ciclo combinado, que permite utilizar gás ao invés de óleo combustível para movimentar as turbinas a vapor. A usina não foi incluída no leilão porque precisa de cerca de 2, 4 milhões de metros cúbicos de gás por dia para gerar energia, mas não recebe o insumo. O presidente de Furnas, José Pedro Rodrigues, conta que foram gastos R$ 600 milhões para converter a térmica, que antes óleo para gerar energia. Outros R$ 16 milhões foram pagos à Companhia Estadual de Gás do Rio de Janeiro (CEG), para que fosse construído um gasoduto que levasse gás até a térmica. Questionado sobre a ausência dessa usina no leilão da semana passada, Rodrigues disse apenas que "foi uma pena" que Santa Cruz não tenha entrado, assim como a hidrelétrica Serra do Facão (empreendimento ainda não construído no qual a estatal tem uma participação societária). A térmica de Santa Cruz pode gerar energia consumindo óleo diesel, mas essa alternativa, segundo Rodrigues, elevaria o custo de produção em quatro vezes. A térmica de Furnas aderiu ao Programa Prioritário de Termoeletricidade (PPT), o que garantia o direito de comprar gás da Petrobras em condições especiais de preço. Mas estava entre as que não assinaram contrato de fornecimento do insumo com a estatal. Segundo o diretor de Gás e Energia da Petrobras, Ildo Sauer, apesar dessa usina estar no PPT, Furnas deveria ter assinado um contrato firme de compra de gás natural em 2003, quando havia sobra do insumo e a estatal tinha prejuízos com o contrato de importação de gás da Bolívia sem ter compradores no Brasil. "Se eles tivessem assinado um contrato conosco poderíamos ter aumentado o diâmetro do gasoduto Campinas-Rio de 28 para 30 polegadas e reservado gás para Furnas. Mas isso não aconteceu. E a Petrobras não pode investir sem ter clientes contratados. O gasoduto foi projetado para atender ao mercado contratado", disse Sauer. O gasoduto Campinas-Rio começou a ser construído em setembro e vai custar R$ 900 milhões. Ele terá 448 quilômetros de extensão, passando por 32 municípios. A capacidade de transporte é de 8,6 milhões de metros cúbicos de gás por dia. Com ele, o Rio de Janeiro - tradicional exportador do gás produzido na Bacia de Campos - poderá receber gás importado da Bolívia que antes chegava só até São Paulo e de lá seguia para a região Sul. Segundo Sauer, toda a capacidade de transporte de gás desse empreendimento já está contratada. Sauer explicou ainda que o contrato da térmica de Santa Cruz no âmbito do PPT previa a entrega de gás sob a forma interruptível, mesmo modelo adotado pela térmica Araucária (PR), que teve o contrato rescindido.