Título: Apesar de testes negativos, ministério confirma aftosa
Autor: Mauro Zanatta e Marli Lima
Fonte: Valor Econômico, 20/12/2005, Agronegócios, p. B12

O Ministério da Agricultura confirmou ontem como negativos os primeiros testes laboratoriais feitos com amostras de esôfago e faringe (Probang) em animais suspeitos de ter febre aftosa no Paraná. Das 209 amostras de bovinos colhidas na fazenda Cachoeira, em São Sebastião da Amoreira, 48 deram negativo para a presença do vírus da aftosa, de acordo com o Laboratório Nacional Agropecuário de Belém (Lanagro). As 209 cabeças de gado foram trazidas de Mato Grosso do Sul, onde surgiram os primeiros focos da doença no início de outubro, para a propriedade no Paraná. Também foram realizados exames Probang em outros 24 bovinos originários de Mato Grosso do Sul, localizados no município de Grandes Rios. Os resultados podem ser divulgados ainda nesta semana. O resultado negativo dos exames reforçou o discurso do governo do Paraná, que afirma que o Estado não tem a doença. "Cada dia temos mais elementos para provar que não temos o foco. Isso fortalece nossa posição de não sacrificar os animais", disse o vice-governador e secretário da Agricultura, Orlando Pessuti. Ele voltou a negar que tenha fechado qualquer acordo com o ministério para sacrificar os animais daquela propriedade. Mesmo diante dos primeiros resultados negativos, o ministério manterá a decisão de reconhecer o foco na fazenda Cachoeira. "Não muda absolutamente nada na nossa decisão, que foi baseada em critérios técnicos internacionais", afirmou o coordenador-geral de combate a doenças da Secretaria de Defesa Agropecuária, Jamil Gomes de Souza. "Esse exame [Probang] só é conclusivo se der positivo por causa de sua baixa sensibilidade para detectar o vírus. Em caso negativo, não significa nada". Segundo ele, os exames anteriores (Elisa e EITB), que detectaram o vírus em 11% dos animais eram mais completos. "Eles têm 99% de sensibilidade porque são muito mais sensíveis que o Probang", disse. O coordenador disse que os demais 185 exames em andamento das duas propriedades no Paraná também devem apresentar resultados negativos. "A tendência é dar negativo. Quanto mais longe ficamos do diagnóstico inicial [21 de outubro], mais diminui a probabilidade de achar o vírus", afirmou. O ministério sustentará a decisão de manter a comunicação oficial à Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) em três fatores: origem dos bovinos numa região com focos de aftosa em Mato Grosso do Sul, sintomas clínicos informados pelo governo do Paraná e, sobretudo, exames sorológicos (de sangue) positivos para o vírus da aftosa nos animais. "Voltar atrás da decisão não existe. Não tem jeito", resumiu Souza. O ministério reiterou ter decidido pelo reconhecimento do foco com base no resultado positivo de 11% dos animais do Paraná. "Se fosse reação à vacinação, que foi feita em maio, a reação normal se daria em cerca de 1% dos bovinos, e não em 11% deles", afirmou Souza. A confirmação de resultado negativo do Probang levantou uma questão no governo paranaense. O secretário Pessuti observou que quando o foco de aftosa foi confirmado no Paraná, o Ministério informou que 22% das 209 amostras feitas foram reagentes ao teste de sorologia. "Resta saber se dessas 48 amostras com resultado negativo para Probang estão animais que deram positivo na sorologia. Se for isso, não há mesmo aftosa no Paraná. Agora, não vejo sentido em fazer esse exame em animais com sorologia negativa", afirmou. Pessuti afirmou que, caso o ministério insista em continuar a investigação no gado com Probang já feito, alguns animais terão de ser sacrificados para que sejam analisados fígado, rim e língua, nos exames de passagem em células.