Título: Brasil deve ter superávit externo de US$ 15,4 bi, o maior da história
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 20/12/2005, Finanças, p. C1;2

O saldo em conta corrente deverá fechar este ano em US$ 15,4 bilhões, o valor mais elevado já registrado na série estatística do Banco Central, iniciada em 1947. Segundo dados divulgados ontem pela autoridade monetária, o resultado acumulado de janeiro a novembro soma US$ 13,711 bilhões. As projeções oficiais apontam novo saldo positivo em dezembro, de US$ 1,7 bilhão. O resultado em conta corrente será bem melhor do que o projetado há cerca de um ano pelo próprio BC. No relatório de inflação de dezembro de 2004, no qual foram feitas projeções que serviram de base para as decisões de política monetária, a autoridade monetária esperava um equilíbrio em conta corrente, com saldo zero. Nas contas do BC, o saldo comercial iria se restringir a US$ 25 bilhões (o que não diferia muito da projeções do mercado, que apontavam US$ 26,3 bilhões). O pressuposto das projeções do BC era um forte aumento da demanda interna, que, entretanto, não se verificou. As exportações se mostraram bem mais fortes do que o antevisto. A autoridade monetária esperava que as vendas externas somassem US$ 100 bilhões, cifra que já foi superada no período de janeiro a novembro, quando atingiram US$ 107,413 bilhões. As importações, que em junho passado chegaram a ser projetadas pelo BC em US$ 78 bilhões para o ano, limitaram-se a US$ 66,974 bilhões de janeiro a novembro; para o ano, a projeção atual do BC é de US$ 74 bilhões. O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, diz que as importações menos expressivas são explicadas, em parte, pelo crescimento abaixo do previsto da economia. "O crescimento da economia afeta o nível das importações." Para 2006, o BC reproduz o cenário que não se verificou em 2005 - isto é, retração do saldo em conta corrente, com queda do saldo comercial. Pelas contas da autoridade monetária, o saldo comercial somaria US$ 34 bilhões (o mercado espera US$ 36,93 bilhões), e o de conta corrente, US$ 3,7 bilhões (nas projeções dos analistas do setor privado, US$ 7,5 bilhões). O destaque negativo da conta corrente externa em 2005 foi a forte expansão das remessas de lucros e dividendos, que acumulam US$ 11,003 bilhões no ano, até 16 de dezembro. Esses dados parciais já representam um crescimento de 50,35% em relação aos dados fechados de 2004, quando as remessas líquidas somaram US$ 7,338 bilhões. O aumento das remessas reflete, em parte, a apreciação da moeda nacional. O real mais forte faz com que os lucros apurados dentro do país se tornem mais expressivos quando convertidos em moeda estrangeira. Os pagamentos de juros da dívida externa, por outro lado, permanecem praticamente estáveis. Acumulam US$ 13,170 bilhões no ano, até o dia 16 de dezembro, o que não difere muito dos US$ 13,384 bilhões observados no ano fechado de 2004. Os pagamentos líquidos de juros mantiveram-se estáveis porque a dívida externa sofreu queda no período; e porque Brasil acumulou mais reservas internacionais, o que eleva a receita de juros. Este ano também está sendo marcado pela virada na conta de turismo internacional, de positivo para negativo. Em 2005, até o dia 16, foi registrado um saldo negativo de US$ 845 milhões, puxado pelo aumento da renda real e valorização da taxa de câmbio. Em 2004, ocorreu um superávit de viagens, de US$ 351 milhões.