Título: Dívida externa é a menor desde 96
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 20/12/2005, Finanças, p. C1;2

Balanço de Pagamentos Receita de exportações e investimentos estrangeiros reduzem os débitos

Os dólares das exportações e os investimentos estrangeiros diretos (IED) permitiram a redução da dívida externa aos valores mais baixos desde 1996. Segundo o Banco Central (BC), a dívida externa total - incluindo os setores público e privado - caiu US$ 8,158 bilhões no terceiro trimestre, chegando a US$ 183,151 bilhões em setembro passado. Em dezembro de 1996, somava US$ 179,9 bilhões. A tendência de queda deverá ter continuidade em dezembro, em virtude do pagamento ao Fundo Monetário Internacional (FMI), anunciado pelo governo na semana passada. Na posição de setembro, o Brasil devia US$ 15,638 bilhões ao FMI e, se esse compromisso tivesse sido pago naquele mês, o débito externo teria caído a US$ 167,5 bilhões. A dívida externa, que em dezembro de 1998 somava US$ 241,643 bilhões, entrou em trajetória de queda após a adoção do sistema de câmbio flutuante, em janeiro de 1999. Muitas empresas privadas endividadas registraram perdas em seus balanços, e passaram a evitar empréstimos no exterior. Isso fez com que a dívida privada de médio e longo prazo, que somava US$ 117,306 bilhões, em dezembro de 1998, caísse a US$ 57,647 bilhões em setembro de 2005. Junto com a dívida do setor público financeiro (bancos estatais), o número chegou a US$ 62,557 bilhões em setembro. O setor público, porém, não reduziu seu endividamento, num primeiro momento. Pelo contrário, passou a tomar mais empréstimos no exterior, sobretudo do Fundo Monetário Internacional (FMI), para ajudar a financiar o balanço de pagamentos, que entrou em crise algumas vezes no período. Dessa forma, o débito do setor público chegou a subir entre dezembro de 1998 e setembro de 2003, passando de US$ 103,044 bilhões para US$ 135,482 bilhões. Desde fins de 2003, porém, a dívida externa pública de longo e médio prazo também começou a entrar em uma tendência de redução, chegando a US$ 104,148 bilhões em setembro passado. Entra ainda na conta um total de US$ 16,4 bilhões da dívida de curto prazo, detida por empresas do setor privado e e empresas públicas financeiras. Devido a condições mais favoráveis de liquidez internacional, o governo passou a comprar dólares no mercado para quitar compromissos da dívida externa. Neste mês, anunciou que irá liquidar toda a dívida que possui junto ao FMI ainda este ano. Duas fontes de recursos têm sido fundamentais para a queda do endividamento. A mais importante delas é o superávit em conta corrente, que deverá fechar em US$ 15,4 bilhões em 2005. Dentro das contas correntes, o destaque é o comércio exterior, com superávit projetado pelo BC em US$ 43 bilhões neste ano. Outra fonte relevante de recursos são os ingressos de IED, que devem chegar a US$ 15 bilhões no ano. A queda da dívida externa tem permitindo uma contínua melhora dos indicadores de solvência externa. A dívida externa caiu a 24,8% do Produto Interno Bruto (PIB) em setembro passado, o percentual mais baixo desde dezembro de 1997, quando equivalia a 24% do PIB. "Antes, discutíamos os indicadores de vulnerabilidade externa", afirmou o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. "Agora, nos referimos aos indicadores de solvência externa." A dívida total líquida (abate as reservas internacionais, créditos brasileiros ao exterior e haveres externos do bancos) chegou a US$ 109,979 bilhões em setembro, ou 14,8% do PIB. É o percentual mais baixo desde dezembro de 1996, quando o débito equivalia a apenas 12% do Produto. Na melhora desses indicadores de endividamento, pesou favoravelmente também - além do pagamento líquido de empréstimos - a ampliação do PIB medido em dólares, que neste ano se expandiu 22,79% - em virtude não do crescimento real da economia, mas da apreciação do câmbio. A queda do endividamento brasileiro segue tendência observada em grande parte dos países emergentes. De forma geral, essas economias tem registrado altos superávits no comércio exterior e em conta corrente, acúmulo de reservas e redução do endividamento como proporção do PIB. A dívida externa da Indonésia, por exemplo, caiu de 105,8% para 45% do PIB entre 1999 e 2005 (valores estimados para este ano); e, no México, de 34,65% para 21,95%.