Título: Apesar do real valorizado, receita com turismo cresce 25% em 2005
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 21/12/2005, Brasil, p. A4

A valorização do real neste ano, recorde em comparação com a alta que outras moedas estrangeiras tiveram sobre o dólar, trouxe de volta o déficit na balança comercial do turismo. De discretos superávits nos dois anos anteriores, invertendo mais de uma década de contas no vermelho, o resultado negativo acumula US$ 821 milhões até outubro, segundo dados do Banco Central. Mas isso não incomoda o ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia, que destaca o forte aumento no ingresso de divisas com a atração de turistas estrangeiros. A indústria do turismo deverá assumir o quinto lugar na pauta brasileira de exportações brasileiras em 2005. Até o fim de dezembro, a receita cambial com a entrada de visitantes do exterior, que cresce há 32 meses consecutivos, atingirá US$ 4 bilhões. Além de ter dobrado em três anos, representa expansão de quase 25% sobre 2004. Um desempenho que leva o ministro a fazer previsões ousadas para o próximo ano. De 5,6 milhões de estrangeiros que devem visitar o Brasil neste ano, a meta é chegar a 7 milhões em 2006, com receita cambial de US$ 6,3 bilhões. "O turismo hoje é uma das dez máximas prioridades do presidente Lula e se tornou uma verdadeira política de Estado", afirmou Mares Guia, que fez ontem um balanço dos seus três anos no comando do ministério. O ministro observou que, em momento de acentuada valorização do real, o setor vive um fenômeno inédito. Apesar do estímulo às viagens internacionais, por causa do barateamento de passagens e pacotes ao exterior, o turismo doméstico crescerá cerca de 20% neste ano. Ou seja, os crescentes gastos dos brasileiros lá fora não têm sido suficientes para afetar a atividade turística interna. "Não queremos que os brasileiros deixem de viajar para o exterior. Nossa obrigação é trazer mais estrangeiros para cá", disse Mares Guia. "Por isso, não trabalhamos com metas de superávit ou de déficit", resumiu o ministro, desconsiderando o resultado negativo apurado pelo BC até outubro. Em 2003, a balança do turismo (diferença entre o que os brasileiros gastaram no exterior e o que os estrangeiros gastaram no Brasil) registrou superávit de US$ 217 milhões, número que subiu para US$ 351 milhões no ano seguinte. De US$ 2 bilhões anuais que entraram no país como despesas de turistas estrangeiros por aqui, quando recebeu o convite para assumir o ministério, Mares Guia garante que dobrará a marca até o fim de dezembro -- nos dez primeiros meses do ano, a receita cambial com o turismo chegou a US$ 3,154 bilhões. Isso fez o setor subir do sexto para o quinto lugar no ranking das exportações brasileiras, de 2004 para 2005. Só deve encerrar o ano perdendo do minério de ferro, da soja, dos automóveis e do petróleo bruto -- mas já traz mais divisas que os aviões da Embraer. Diante das críticas à capacidade gerencial do governo, por não aplicar recursos liberados para investimentos, Mares Guia apresentou números para comprovar que executou 91% do limite autorizado até a semana passada -- foram R$ 435 milhões. "Vou receber mais R$ 100 milhões hoje e empenho esse dinheiro até sexta-feira", disse o ministro. Mares Guia afirmou ainda que o governo investiu, entre janeiro e novembro, R$ 131 milhões em promoção comercial, no Brasil e no exterior. O valor, segundo ele, é três vezes superior ao que era gasto quando assumiu o cargo.