Título: PT discute com Lula reeleição e mudança na economia
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 21/12/2005, Política, p. A4

A nova executiva do PT, eleita em outubro, reúne-se hoje, pela primeira vez, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com uma agenda bem clara. Em primeiro lugar, Lula é o candidato do partido à reeleição, sem planos alternativos ou sustos de percurso. Além disso, o governo precisa mudar a política econômica, baseada, de forma equivocada, apenas na taxa de juros e nas metas de superávit fiscal. Necessita também aumentar a interlocução com os movimentos sociais, deixando de lado a idéia de que só o Congresso Nacional e as políticas de alianças são suficientes para governar o Brasil. "O presidente Lula é a principal figura para manter um projeto que levamos 25 anos para construir. Não há plano B, ele é o nosso plano AAA - triplo A", resumiu o presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP). O documento da última executiva nacional petista já tinha mostrado que a relação PT e Lula na estrada para reeleição será conturbada. Berzoini afirma que o partido não questiona o remédio amargo aplicado em 2003, mas critica que o mesmo medicamento continue sendo aplicado em 2005 e permaneça em alta em 2006. "A inflação está sob controle, não temos mais acordo com o FMI, pagamos nossa dívida com o Fundo, a relação dívida/PIB está estabilizada. Não precisamos mais doses brutais de antibiótico, precisamos de crescimento", cobrou o petista. Com a experiência de quem já foi ministro, Berzoini garante que um arrocho fiscal como o praticado atualmente inviabiliza as ações dos ministérios. O presidente do PT admite que, em breve, Lula terá que escolher de que lado fica: do lado do PT, Dilma Roussef (ministra da Casa Civil) e Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) ou do lado de Palocci (Fazenda) e Meirelles (Banco Central). "Evidentemente, o PT vai apoiar qualquer decisão do presidente. Mas ele sabe que o crescimento econômico é vital para 2006. Tropeços como a queda do PIB no terceiro trimestre terão conseqüências eleitorais sérias", apontou. O secretário-geral do partido, deputado estadual Raul Pont (RS), acha que, sem sinalizações claras para a sociedade e para os movimentos sindicais de que os rumos serão mudados, Lula não terá, como teve em 2002, o apoio incondicional destes setores. "O Brasil precisa voltar a pensar grande. Não podemos apenas ficar discutindo economia com base no "puxa o juro para cá, puxa o juro para lá", protestou Pont. O secretário-geral petista defende a reestatização do setor de infra-estrutura. "O Estado tem que voltar a controlar energia, telefonia, estradas. É público e notório que o setor privado não tem interesse em realizar investimentos de longo prazo", resumiu Raul Pont. O petista também não quer nem pensar na hipótese de Lula desistir de concorrer à reeleição. Mas é mais incisivo do que Berzoini: segundo ele, se isso acontecer, que aconteça logo. "Uma candidatura nacional não se faz da noite para o dia. Se Lula de fato não for concorrer, tem que se definir logo. Precisamos construir uma alternativa", cobrou. Apesar do aparente discurso duro, o PT sabe que radicalizar demais não será bom para nenhuma das partes. Integrantes da Executiva têm pesadelos só de imaginar o que aconteceria com o partido se Lula desistisse de disputar a reeleição. "Não podemos negar, o Lula é muito maior do que o PT. O que une o nosso partido é a figura do presidente", resumiu um petista. Outro dirigente partidário garantiu que a situação de Palocci é bem mais delicada. Para ele, tudo vai depender do que Lula deseja para 2006 e para um eventual novo mandato. Mas Palocci jamais recuperará o peso político de 2002, quando foi nomeado coordenador do programa de governo do PT. O próprio contexto é completamente diverso. "Em 2002, Lula era do PT. Hoje não, ele é um presidente, candidato à reeleição e com uma equipe ministerial e um arco de alianças políticas que acabam influenciando na hora da decisão", justificou o dirigente partidário.