Título: Recandidatura de Lula é dada como certa na Esplanada
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 21/12/2005, Política, p. A8

Crise Ministros dizem que tom da reunião foi de campanha eleitoral

Quem participou da última reunião ministerial e do jantar de confraternização na noite de segunda-feira, na Granja do Torto, não teve dúvida: pelo tom e pela decisão de tomar as rédeas de seu governo em meio a uma crise que se arrasta por mais de 200 dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva será, sim, candidato à reeleição. Ele disse que o governo precisa "construir um novo discurso para renovar a esperança do povo". Aos ministros e líderes de governo, Lula afirmou: "A palavra agora não é mais estabilidade. É crescimento econômico com responsabilidade". Lula deu uma ordem eleitoral aos ministros: em 2006, toda semana, quer pelo menos um ministro em cada Estado. E fazendo discursos favoráveis ao governo. A ênfase com que fez a afirmação sobre a necessidade urgente de crescimento por pouco não constrangeu o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Mas a correção veio em seguida: o presidente reconheceu que as iniciativas da equipe econômica consolidaram a estabilidade, apesar de o preço ter sido alto. Agora é preciso ir além. Esse discurso da nova esperança pode começar com uma nova estratégia de comunicação. Parlamentares muito próximos ao presidente fazem constantes críticas sobre as dificuldades de comunicação do governo, e as repetiram no jantar. O material sobre os resultados econômicos e sociais deste governo, divulgado ontem entre parlamentares e entregue à imprensa na véspera, deverá ser amplificado ao máximo para dele tomar conhecimento toda a sociedade. Os parlamentares governistas estão convencidos de que todos os indicadores - massa salarial, distribuição de renda, inflação, dívida externa, geração de empregos - são extremamente favoráveis. Lula enfatizou que são os melhores da década. O nível de pobreza no Brasil, por exemplo, caiu quatro pontos percentuais. Os ministros terão que espalhar os números pelo país. Lula reclamou da timidez com que os aliados defendem o governo no Congresso. Ouviu do líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), que só os números não são discurso suficiente para melhorar a situação política e convencer parlamentares em votações. O governo precisa melhorar sua interlocução com os parlamentares, insistiram os líderes presentes. O Lula que dirigiu a reunião presidencial mostrou comando. Classificou a divergência pública do governo um "filé" para a oposição. Ou melhor, definiu ele, um "tiro no pé de bazuca". Não se falou abertamente sobre candidaturas de ministros, mas Lula vai, sim, fazer uma reforma ministerial em janeiro para retirar do governo os candidatos. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, está sem partido e não disputará. Lula pediu ao ministro de Relações Institucionais, Jaques Wagner, que fique no governo. Wagner, no entanto, vai analisar o cenário eleitoral na Bahia para tomar a decisão de disputar ou não o governo. Outro que não deve mais ser candidato é o ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia. Ele cogitava uma candidatura ao Senado pelo PTB, ou até mesmo a possibilidade de disputar a vice-presidência numa chapa com Lula. Como a preferência do presidente ainda é tentar a composição com o PMDB e a posição do PTB é incerta, Mares Guia seria um plano B ou C na vice. Antonio Palocci dá sinais de que não vai se aventurar no pleito de 2006 depois de ter sido bombardeado por supostas denúncias de corrupção em Ribeirão Preto. Ciro Gomes é candidatíssimo, mas também é uma opção para a vice-presidência, o governo do Rio de Janeiro ou até mesmo à Presidência para auxiliar o PSB a vencer a cláusula de barreira e compor com Lula num segundo turno. Também estão cotados para deixar o governo os ministros Alfredo Nascimento (Transportes) e Saraiva Felipe (Saúde), que devem disputar o governo do Amazonas e uma vaga na Câmara dos Deputados, respectivamente. No jantar no Torto, que foi muito rápido, Lula teve à mesa Palocci, Dilma Rousseff (Casa Civil), Jaques Wagner (coordenador político) e o vice-presidente José Alencar.