Título: Morales discutirá contratos de gás com Lula
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Fonte: Valor Econômico, 13/01/2006, Brasil, p. A2

Os novos contratos de exploração de gás sob a lei de hidrocarbonetos e a situação das duas refinarias controladas pela Petrobras deverão estar no centro das conversas que o presidente eleito da Bolívia, Evo Morales, terá nesta sexta-feira, em Brasília. Nesta última etapa do giro internacional que incluiu países como China e África do Sul, Morales será recebido no Palácio do Planalto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que manifestou apoio à sua candidatura antes das eleições. Ele também agendou um encontro com a diretoria da Petrobras para discutir a situação da estatal brasileira na Bolívia. Uma das maiores preocupações do governo brasileiro é com uma transição "negociada" dos contratos de exploração de gás para os novos termos definidos pela lei de hidrocarbonetos. A adaptação dos contratos deveria ter sido feita em novembro, mas o governo provisório da Bolívia deixou a tarefa para a futura administração de Morales. O ponto a ser destacado por auxiliares próximos de Lula é a necessidade de segurança jurídica suficiente para fazer novos investimentos. A Petrobras praticamente cortou os seus investimentos no país vizinho, à espera da definição dos novos contratos, e vai pedir que eles sejam "negociados, e não impostos" à empresa, segundo um diplomata brasileiro. Estará igualmente na pauta de discussões a eventual entrada da estatal boliviana YPFB na gestão das duas refinarias controladas pela Petrobras, responsável pelo refino de 98% do petróleo do país. O mesmo diplomata diz que "a lógica mais provável seria um processo de associação progressiva das duas empresas, com gerenciamento compartilhado". Compradas por US$ 102 milhões nos anos 90, as refinarias hoje valem cerca de US$ 200 milhões, segundo estimativas de mercado. Em governos anteriores, a Bolívia acenou com a possibilidade de fazer uma proposta de compra das refinarias, mas não avançou nas tratativas - por falta de recursos para fechar o negócio, acredita o Itamaraty. O presidente Lula falará com o Evo Morales sobre a possibilidade de incorporação do país ao Mercosul, como membro pleno, o que supõe o alinhamento das suas tarifas de importação às alíquotas praticadas pelo bloco e a adesão gradual da Bolívia aos demais acordos comerciais do Cone Sul. La Paz ainda não deu qualquer sinal de interesse pela idéia. Um experiente conhecedor da situação boliviana avalia que a proposta de incorporação ao Mercosul impõe um dilema ao novo presidente boliviano. No fim de 2006, expiram as preferências tarifárias concedidas unilateralmente pelos Estados Unidos a produtos têxteis e móveis da Bolívia, que empregam entre 60 mil e 90 mil trabalhadores na politicamente explosiva cidade de El Alto. Se quiser manter as exportações aos Estados Unidos, o novo presidente boliviano poderá ver-se obrigado a buscar um acordo de livre comércio com os americanos, contrariando as normas do Mercosul de costurar acertos sempre conjuntamente.(DR)