Título: Interior fica com 75% das vagas criadas nas fábricas
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 13/01/2006, Brasil, p. A3

Uma das principais motivações para a migração das indústrias rumo ao interior do país é a redução dos salários pagos aos empregados. Pesquisa realizada pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) revela que o salário de um trabalhador demitido nas capitais é, em média, 18% maior que o do substituto contratado na capital e 30% superior ao salário de admissão no interior. O coordenador do estudo Geração do Emprego Industrial nas Capitais e no Interior, João Luiz Maurity Sabóia, considera essa diferença "impressionante". Os salários médios do interior continuam sempre inferiores aos dos grandes centros e não apenas na admissão. Em 2004, a remuneração média dos empregados da indústria nas capitais era de 2,3 salários mínimos, enquanto, no interior, não passava de 1,9 salário mínimo. O trabalho do Senai baseou-se em duas pesquisas coordenadas pelo Ministério do Trabalho: Relação Anual de Informações Sociais (Rais) e Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Entre os anos de 2000 e 2004, a remuneração média dos admitidos variou entre 80% e 90% da dos demitidos. Em 2004, os novos empregados na indústria receberam, nas capitais, o equivalente a 84,3% do salário dos demitidos. No interior, essa porcentagem foi um pouco maior: 86,5%. Sabóia, diretor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explicou ainda que, além do menor custo da folha de pagamento, o emprego industrial também está indo para o interior desenvolvido do país atraído pelos benefícios da guerra fiscal, pela maior proximidade dos insumos e pela busca de uma melhor logística para atender a clientes do Mercosul. Segundo o estudo, mais de três quartos das vagas criadas pela indústria nos últimos cinco anos surgiram no interior, principalmente em cidades das regiões Sul e Sudeste. Atividades tradicionais, como as de minerais não-metálicos, madeira/mobiliário, têxtil/vestuário, calçados e alimentos/bebidas foram os que mais criaram empregos no interior. Mais de 80% das vagas abertas nesses setores foram dos grandes centros. Apesar da tendência de crescimento da oferta de empregos no interior, 11 capitais se destacaram entre as 50 microrregiões que criaram 60% dos empregos industriais entre 2000 e 2004. Dessas áreas, 39 estão no Sul e no Sudeste. As zonas que mais eliminaram empregos industriais estão em regiões menos desenvolvidas. Dessas, 22 estão no Nordeste, sete no Centro-Oeste e três no Norte. Dezoito, nesse grupo que mais perdeu postos de trabalho, estão no Sudeste. "Está havendo um deslocamento da concentração do emprego industrial do Sudeste para outras regiões", disse Sabóia. Na sua opinião, a guerra fiscal, apesar de caótica, é a política pública que mais tem criado emprego no interior. Falta uma política pública nacional. Ele só vê iniciativas "pontuais", como a transposição do São Francisco.