Título: Indústria vê demanda fraca e planeja demissões
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 13/01/2006, Brasil, p. A3
Conjuntura Sondagem da FGV mostra que só 9% das empresas ouvidas consideram a atividade econômica aquecida
A indústria de transformação começou o ano desanimada. Na avaliação de 20% das cerca de 480 empresas industriais ouvidas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) na prévia da Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação realizada entre o fim do ano passado e os primeiros dias de 2006, a demanda por seus produtos está fraca. Apenas 9% consideram que a atividade econômica está aquecida. O saldo negativo em 11 pontos percentuais é o pior desde o trimestre encerrado em julho do ano passado. Mesmo sendo um mês de menor fôlego para a indústria, este janeiro está bem fraco e só não é pior do que o de 1999. Com isso, o cenário para o mercado de trabalho é nebuloso. Há mais empresas planejando demitir pessoas no próximo trimestre do que abrir novas vagas. De acordo com a sondagem, 32% das indústrias afirmam que pensam em reduzir o quadro de funcionários, enquanto apenas 11% desejam contratar. A diferença entre as duas respostas, o saldo negativo em 21 pontos percentuais, é o pior resultado desde 1998 e bem abaixo da média histórica, de 8 pontos percentuais. Uma outra notícia ruim para o mercado de trabalho foi o crescimento, em 2005, de 2,4% no nível de emprego na indústria paulista, desempenho abaixo da previsão já conservadora de 3% feita pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Conforme a pesquisa da Fiesp, o setor terminou 2005 com criação de apenas 48,4 mil postos, bem abaixo das 144,5 mil vagas abertas em 2004. Paulo Francini, diretor do departamento econômico da Fiesp, voltou a atribuir a fraqueza da atividade industrial à política monetária brasileira. Em especial ao aumento do juro básico da economia e ao ritmo conservador de redução da Selic, que vem sendo feito desde setembro do ano passado. "A economia como um todo foi fortemente afetada pela política colocada em prática. Foi exagerada e ocasionou uma taxa ridícula de crescimento do PIB, da indústria e do emprego", completa. Para 2006, Francini diz que, se o Banco Central mantiver "o rigor e a ortodoxia" na condução da política monetária, o crescimento da indústria deve ficar entre 2,5% e 3,5%. A mesma variação é projetada para o emprego. Esse cenário só mudaria, segundo ele, caso a autoridade monetária fosse mais ousada no corte de juros. As expectativas da indústria para os próximos três meses não são muito otimistas. Há mais empresas acreditando que a produção vai aumentar do que diminuir, porém, há mais empresários esperando queda da demanda (30%) do que aumento (26%). A FGV ressalta que a demanda externa deverá ter destaque. Isso porque 26% das empresas esperam aumento das exportações e 21% crêem que haverá recuo. No caso da demanda interna, o quadro é pior: 26% estão contando com mais encomendas e 32% esperam vendas fracas. Além disso, o nível de estoques atual não está em um nível confortável. "Após errarem na mão e chegarem ao maior nível de estoques em julho de 2005, as empresas foram se ajustando, mas esse processo ainda não terminou, é algo gradual", explica Aloisio Campelo, coordenador da Sondagem da FGV. A quantidade de estoques ainda é considerada alta por 12% das empresas e insuficiente para 3% - o resultado mais positivo desde janeiro do ano passado. Mesmo assim, mostra que o fim de ano não foi tão bom a ponto de as companhias conseguirem queimar todos os estoques. Para o economista, a continuidade da queda dos juros vai ajudar ao movimento de ajuste de estoques. "As empresas estão mais ressabiadas. E não é porque o Banco Central está baixando os juros que já vão passsar a produzir muito mais ou empregar mais gente. Não há, no curto prazo, a perspectiva de um choque de estímulo positivo na economia." No entanto, as previsões para um período mais longo, seis meses, são mais otimistas. Mais da metade (55%) das empresas ouvidas pela FGV acredita que a situação dos negócios vai melhorar e apenas 12% apostam em um cenário oposto. O saldo de 43 pontos percentuais é o melhor desde o primeiro semestre de 2005, quando 58% das indústrias apostavam em uma melhora dos negócios e apenas 6% esperavam um cenário mais negativo. (Colaborou Bianca Ribeiro, do Valor Online)