Título: Apoio a candidato do PFL em SP é condição apenas para Alckmin
Autor: Raymundo Costa e Cristiane de Agostine
Fonte: Valor Econômico, 13/01/2006, Política, p. A5

O PFL impôs uma condição ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para firmar uma aliança na eleição presidencial de 2006: o apoio formal do PSDB a uma candidatura do partido ao Palácio dos Bandeirantes. Trata-se de um compromisso que o governador tem dificuldades para assumir sem causar uma rebelião entre os tucanos paulistas. Ao ser questionado ontem sobre a proposta pefelista, Alckmin sugeriu que o PSDB deve reivindicar a cabeça de chapa, mas não descartou a hipótese: "Em São Paulo todo entendimento está aberto", disse o governador. O PFL trabalha com três hipóteses para o governo paulista: o atual vice-governador Cláudio Lembo, que assumirá em março quando Alckmin deixar o cargo, o empresário Guilherme Afif Domingos e o senador Romeu Tuma. Na cúpula pefelista, a avaliação é que os três estão em melhor condição eleitoral que qualquer dos nomes tucanos mencionados até agora, à exceção do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Apesar de Afif Domingos ser o pefelista aparentemente favorito para disputar o cargo, Cláudio Lembo levaria vantagem por estar no governo. O PFL não deve apresentar a mesma condição para o caso de o candidato tucano ser José Serra. Isso porque o partido já se sentiria compensado com os dois anos e oito meses que terá à frente da Prefeitura de São Paulo. Mas, a exemplo do que também propõe a Geraldo Alckmin, quer o apoio dos tucanos na disputa pelo governo da Bahia. É um problema especialmente para Serra, pois um de seus mais fiéis aliados é o deputado Jutahy Junior, um ferrenho adversário do senador Antonio Carlos Magalhães, o principal cacique pefelista da política baiana. O PFL também cogita nomes diferentes do partido para candidato a vice-presidente na chapa tucana, dependendo de quem for o indicado pelo PSDB. Se for Geraldo Alckmin, o nome analisado é o do líder da sigla no Senado, Agripino Maia (RN). Ele atende a uma condição estabelecida pelo governador paulistas: é do Nordeste. Já para a vice de Serra são cogitados os nomes dos senadores Jorge Bornhausen (SC), Marco Maciel (PE), que foi vice de FHC, Antonio Carlos Magalhães (BA) e o prefeito César Maia (RJ). Durante a inauguração de um programa educacional, ontem, em São Paulo, Alckmin disse que a sucessão estadual é assunto a ser discutido após a definição do postulante à presidência. "Alianças estaduais ficarão em seqüência da questão nacional. E aí cada estado tem sua singularidade. Pode ter Estado com PSDB, PFL juntos", comentou. "Em São Paulo todo entendimento está aberto. Muitas dessas batalhas eu acho que serão batalhas de Itararé. As coisas caminham para um bom entendimento dentro do partido, supra-partidário." A relação do governador com o PFL em São Paulo foi marcada por tensões no Legislativo. No começo de 2005, o candidato do governador à presidência da Assembléia foi derrotado por um pefelista. Sem apoio consolidado do PFL, o governo não conseguiu aprovar o Orçamento no ano passado e começa o ano com a restrição de poder gastar 1/12 da peça orçamentária enviada aos deputados. O governador paulista garantiu que não vai interferir na votação da verticalização, regra que determina que partidos com candidato a presidente não podem se aliar si nos Estados. Alckmin apóia a manutenção da verticalização, mas avisa que não vai interferir diretamente na votação do Congresso. "Não vou fazer da verticalização um cavalo de batalha e não vou me movimentar para isso", disse. "Agora é inegável que a verticalização em termos de fortalecimento de partidos nacionais é boa. " Antecipando a campanha eleitoral e assumindo a postura de candidato em atividades de governo, Geraldo Alckmin disse que defenderá a geração de emprego e renda, educação, segurança. "Não tem fórmula mágica, não tem coisa marqueteira. O que faz a diferença é governo que funciona, que tem ousadia, que faça reforma, num mundo muito rápido, onde a velocidade da mudança é muito grande." Mas seu governo em São Paulo enfrenta problemas na área da segurança. Nos últimos dias, bases policiais foram atacadas e policiais foram mortos, por ações comandadas por grupos criminosos como o PCC. Na educação, mesmo propagandeando que há mais vagas do que alunos, 77 escolas são de lata e madeira. Mais expansivo em seus discursos do que de costume, desde que lançou-se como pré-candidato, disse que a mudança em seu estilo deve-se porque "chegou a hora de falar de política". "E política não é coisa ruim, se feita com honestidade, com transparência. É importante colocar o que pensa, se colocar à disposição do partido, do país, da sociedade. Dizer o que pretende fazer".