Título: No Equador, Alencar critica proposta americana para as Forças Armadas
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 18/11/2004, Brasil, p. A-2

O vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, expôs claramente ontem as divergências entre Brasil e Estados Unidos sobre a atuação das Forças Armadas no continente americano. Ele condenou a proposta da Casa Branca de expandir as atividades militares para áreas como prevenção e combate ao terrorismo, ao narcotráfico, a crimes transnacionais e à lavagem de dinheiro. Essas atribuições cabem hoje à Polícia Federal de cada país. Os Estados Unidos buscam o apoio de outros governos para " vitaminar " a Junta Interamericana de Defesa, órgão de assessoria técnico-militar da Organização dos Estados Americanos (OEA), e incorporar novas responsabilidades às Forças Armadas. O Brasil discorda, conforme deixou claro Alencar, que participou da VI Conferência de Ministros de Defesa das Américas, em Quito, no Equador. " Julgamos ser contraproducente que se crie mais uma instância, que iria duplicar os esforços ou levar os Estados-membros da OEA a deliberarem sobre os mesmos assuntos em dois fóruns distintos " , afirmou Alencar, em discurso de estréia como ministro em atividade no exterior. " Juntamente com os demais países da Aladi, temos defendido a posição de que a atividade-fim das Forças Armadas é a defesa da soberania e da integridade territorial. Compete às forças policiais e órgãos de inteligência de cada país trabalhar no sentido de prevenir e combater o terrorismo e o crime organizado transnacional, com base na cooperação e no intercâmbio dos dados de inteligência " . As afirmações de Alencar foram feitas diante do secretário americano Donald Rumsfeld, principal articulador da invasão do Iraque no ano passado, que também participa da conferência. Rumsfeld foi em linha oposta à do ministro brasileiro e defendeu maior participação das Forças Armadas nesses assuntos. " Desde 11 de setembro de 2001, conduzimos uma revisão árdua, mas essencial da nossa relação entre as responsabilidades das Forças Armadas e da polícia no nosso país. Os complexos desafios desta nova era requerem que todos os elementos do Estado e da sociedade trabalhem juntos " , defendeu o secretário. Assessores de Alencar garantem que o Brasil conta com apoio da maioria dos latino-americanos na questão. As pressões pela redefinição da Junta Interamericana de Defesa, que começaram a ser feitas após o fim da Guerra Fria, contam com a simpatia do Canadá, membro mais recente do órgão. Ainda em frente de Rumsfeld, Alencar fez críticas ásperas às ações unilaterais dos Estados Unidos na área militar. " A cooperação política que se construiu ao longo de mais de meio século, desde a criação das Nações Unidas, tornou condenável o uso unilateral da força no cenário internacional " , disse.