Título: Varig obtém "blindagem" com o aval dos credores
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 13/01/2006, Empresas &, p. B3

Aviação Companhia consegue restringir possível arresto de aeronaves

A Varig conseguiu uma importante vitória, ontem, em audiência no tribunal de falências de Nova York. O juiz Robert Drain aceitou o pedido da companhia para modificar a liminar que restringia o arresto de aviões. A partir de agora, está liberada de restrições a cobrança pelos trâmites normais (eventual arresto em caso de atraso de pagamento) se a Varig atrasar parcelas futuras das prestações de leasing. Os credores, entretanto, não poderão cobrar pelo pagamento fora do prazo entre a data de pedido da recuperação judicial, 17 de junho de 2005, e ontem, nem tentar recuperar dívidas referentes ao período anterior ao início da recuperação judicial. As empresas de leasing aceitaram as condições, depois de receberem a maior parte dos pagamentos devidos após a entrada da empresa na recuperação judicial e dizendo que não tinham intenção de cobrar dívidas anteriores. Sheldon Solow, representante da Ansett Worldwide Aviation, um dos advogados mais agressivos no questionamento à Varig em outras audiências, disse, ao aceitar o pedido: "sem problemas, o que é algo raro para mim". Provocou risos. No fim da audiência, o presidente da Varig, Marcelo Bottini, fez questão de cumprimentar com apertos de mão os advogados das empresas de leasing. O fundo de investimentos americano Matlin Patterson e a estatal portuguesa TAP fecharam um acordo na quarta-feira à noite para que o fundo compre a VarigLog (subsidiária na área de logística e cargas) e a empresa lusa adquira a VEM (manutenção de aviões). O acordo aumentou o valor que a Varig recebeu pelas subsidiárias em US$ 10 milhões. As duas empresas custaram juntas US$ 72 milhões. Marcelo Bottini, presidente da Varig: "Melhoramos o resultado financeiro e mantivemos os investidores na companhia" Os dois investidores se comprometeram a interromper as ações judiciais mútuas contestando a primeira operação. "O acordo foi excelente", disse Bottini. "Melhoramos o resultado financeiro da venda para a Varig e mantivemos os dois investidores dentro da companhia para a segunda fase do plano de recuperação, que é a capitalização." O valor final da VarigLog depois do acordo foi de US$ 48 milhões, e o da VEM, US$ 24 milhões. "A TAP ficou com a VEM, que era a subsidiária que sempre a interessou mais, e o fundo com a VarigLog, que também era sua empresa preferida", afirmou Bottini. Ainda terão de ser feitas negociações com o BNDES, que participou da operação inicial. O banco havia concedido crédito à TAP para a compra das companhias. O dinheiro foi usado para capitalizar a Varig. Como a operação era considera intransferível pelo BNDES, o Matlin Patterson não pode usar o financiamento. Tanto o fundo americano quanto a empresa portuguesa continuam interessados na compra de participação na Varig na segunda fase da recuperação, segundo Bottini. O acordo entre os dois investidores teve o intermédio da direção da Varig. A audiência foi rápida e transcorreu em clima cordial. Pela primeira vez, a Varig foi elogiada pelos credores por saldar toda a dívida correspondente as parcelas de leasing e aumentar o número de aeronaves em operação. Bottini chegou animado à audiência. "Aquele dinheiro que eles disseram que não tínhamos como conseguir já está na conta das empresas. Pagamos tudo", disse ao chegar à sala do juiz. Desde a última audiência, a Varig pagou US$ 63,7 milhões às empresas de leasing, entre recursos do fluxo de caixa e acordos para liberação de valores provenientes de contas que haviam sido bloqueadas. A companhia informou que da frota total de 75 aviões, 62 encontram-se em operação. O cronograma anterior de retomada das atividades foi antecipado. "Devem entrar em operação mais dois aviões em janeiro, dois em fevereiro, dois em marco e outros três até abril", explicou Bottini. Em 15 de abril, a Varig estará com toda sua frota de 71 aeronaves em operação. Em condições normais, sempre há quatro aviões passando por revisão. A empresa tem planos de iniciar cinco novos contratos de leasing, recuperando parte da frota perdida desde 2002, quando dispunha de 120 aviões arrendados. Segundo documento apresentado pelo presidente da Varig na audiência, serão canceladas rotas deficitárias, como Holanda e Japão, e haverá aumentos de freqüência nas rotas mais rentáveis (Estados Unidos e Alemanha), além de novos mercados em exploração. A freqüência de vôos para Nova York e Miami, segundo Bottini, já aumentou 40%. A ocupação estaria em torno de 80%. Até o segundo semestre, a empresa lançará novas rotas diretas do Rio para os EUA. "Estamos fazendo um esforço para recuperar passageiros da classe executiva e primeira classe, para reverter a perda de mercado no segmento corporativo", disse Bottini. Com mais rotas, a companhia espera melhorar o fluxo de caixa. Encerrado a primeira etapa da recuperação judicial, Bottini deve apresentar aos credores, no dia 25 para aprovação até o dia 31, o modelo para a segunda fase, que consiste na capitalização da companhia. Está prevista a transformação de dívidas dos credores em cotas de fundos de investimento representando ações, o que permitiria transações entre credores e eventuais compras de crédito no mercado secundário por investidores interessados. A Varig continua trabalhando com a perspectiva de um investimento externo de cerca de US$ 500 milhões. O juiz americano pediu ao advogado da Varig nos EUA, Rick Antonoff, que apresente assim que possível detalhes do plano aprovado pelo credores e das últimas decisões da justiça brasileira antes da próxima audiência, marcada para 17 de março.