Título: Empreiteiras vão contratar até 3 mil
Autor: Paulo Henrique de Sousa
Fonte: Valor Econômico, 13/01/2006, Empresas &, p. B6

Tapa-buracos Cálculo aproximado é da Aneor para reparar os 26,4 mil quilômetros das rodovias federais

O número de empreiteiras que vão tapar os buracos nas rodovias federais pode chegar a uma centena em todo o país. O Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transporte (Dnit) divulgou uma lista parcial com cerca de 70 empresas - que já têm contrato com o órgão para outras obras - que foram ou serão convidadas a reparar as rodovias em regiões próximas àquelas em que já trabalham (uma extensão de cerca de 19 mil quilômetros). Mas o Dnit não informou quantas mais serão contratadas em regime de urgência, sem licitação, para fazer os outros 7.251 quilômetros, divididos em 93 trechos, que totalizam os 26,4 mil quilômetros da operação tapa-buracos, nos quais o governo vai gastar R$ 440 milhões. O presidente da Aneor, José Alberto Ribeiro, que representa as empreiteiras de obras rodoviárias, calculou que as empresas poderão contratar entre 2,5 mil e 3 mil trabalhadores. Do ponto de vista de geração de emprego, cada posto custará R$ 146,6 mil - caso as contratações cheguem a 3 mil. O diretor-presidente da empreiteira mineira Enpa Engenharia, José Carlos Pereira Belém, informou que vai contratar entre 60 e 70 operários para trabalhar em um trecho de 230 quilômetros da BR-040, em Goiás, um contrato emergencial de R$ 3,9 milhões. A também mineira Mecanorte vai contratar 80 trabalhadores para o trecho de 107 quilômetros da BR-101, no Rio de Janeiro. O diretor da Rodocon, Carlos Alberto Zagury, também disse que vai contratar mais operários para tapar os buracos na BR-101, no Rio de Janeiro, e na BR-070, no Mato Grosso. A empresa já tinha contratos de manutenção de estradas com o Dnit, mas não revelou o valor nem o tamanho dos trechos. Para algumas empreiteiras a operação será um ótimo negócio. Para reparar o trecho de 107 quilômetros, a Mecanorte vai receber R$ 13 milhões, o equivalente a 29% do faturamento do ano passado, de R$ 45 milhões. Já o diretor da Enpa disse que o negócio só é vantajoso porque a empresa possui um canteiro de obras instalado na BR-060, para os serviços de duplicação, e que será usado para tapar os buracos na BR-040. Na avaliação dele, o contrato de R$ 3,9 milhões é pequeno e não justificaria a mobilização da estrutura para longe. "Essa receita não significa praticamente nada. São contratos pequenos e muito trabalhosos. Se fosse para fazer longe das nossas bases, não faria, não." A Enpa tem um lote de 18 quilômetros de duplicação da BR-060 e mantém uma usina de asfalto no canteiro, que será útil na tarefa de tapar os buracos da BR-040, em caráter emergencial. O presidente da Aneor disse ter ouvido comentários de que há empresas dispostas a não participar do programa por causa do desconto de 20% pedido pelo governo. "Em alguns trechos, com esse desconto, as obras ficam inexequíveis." O desconto máximo tolerável para algumas empresas, segundo ele, seria de 10%. Enquanto isso, outras já estão com as equipes nas estradas. O diretor-executivo da Mecanorte, Gonçalo Duque Estrada Frausche, disse que a empresa começou a execução da primeira etapa dos serviços - no trecho entre o trevo de manilha, em São Gonçalo, e o trevo de Rio Dourado, em Rio das Ostras. A segunda parte será mais complexa: substituir a camada de asfalto deteriorada por uma nova. O contrato emergencial da Mecanorte com o Dnit é de seis meses. O presidente do Sindicato Nacional da Construção Pesada (Sinicon), Luiz Fernando Reis, criticou o programa do governo. "Não é emergência; emergência é queda de ponte, como aquela que continua caída lá no Sul". Pelos cálculos da Aneor, seriam necessários R$ 20 bilhões, em quatro anos, para recuperar a malha viária. Ribeiro sugeriu que o governo invista R$ 6 bilhões por ano com os recursos da Cide, contribuição cobrada no preço dos combustíveis.