Título: Gripe derruba preços do frango
Autor: Alda do Amaral Rocha
Fonte: Valor Econômico, 13/01/2006, Agronegócios, p. B12

Mercado Cotação na exportação recua após retração de consumo em países importadores

O aumento dos casos de gripe aviária em humanos na Turquia está fazendo se repetir um fenômeno já visto quando eclodiram os casos de doença da "vaca louca" na Europa: temendo contaminação, parte dos consumidores em várias regiões do mundo se retraiu e evita comer a proteína. Um dos efeitos dessa nova onda de pânico - injustificada segundo especialistas - é a redução dos preços da carne de frango na exportação. As cotações do produto apresentam queda em mercados importantes para a carne de frango brasileira, como Europa, Oriente Médio e Japão. Traders apontam desvalorização entre 20% e 30% no caso do peito de frango exportado ao mercado europeu desde outubro passado. "Depois de outubro, o consumo começou a cair na Europa. Na Itália, a queda foi de 30%", afirma Carlos Eduardo Sant'Anna, da área de carnes da Comexport. Segundo ele, a tonelada do peito de frango que estava em US$ 2.500 CIF em outubro caiu para US$ 1.800 atualmente. Já a Coimex apurou que o preço saiu de US$ 2.500 FOB em outubro para US$ 2.000 hoje. Jerry O'Callaghan, diretor de carnes da Coimex, observa, porém, que os preços já estiveram em níveis mais baixos. "Há um esforço para elevar os preços do frango", afirma. A Sadia, maior exportador de frango do país, confirma o recuo nas cotações de venda, mas informa que a desvalorização vista foi "bem inferior" à apontada pelas tradings. Para Giovana Rosas, coordenadora de exportação de alimentos da cooperativa Lar, as cotações estão voltando aos níveis "normais" - ao redor de US$ 2.500 - depois de terem atingido US$ 3.000 em 2005, ano de forte demanda pelo frango brasileiro, justamente por causa da gripe aviária na Ásia. Mas a chegada do vírus H5N1 da influenza aviária ao continente europeu - além de Turquia, já houve casos na Ucrânia, Romênia, Rússia e Croácia -, parece ter mudado o ânimo dos consumidores. "Esse pânico não se justifica porque há contaminação apenas se houver contato com aves infectadas", lembra José Carlos Godoy, secretário-executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Pintos de Corte (Apinco). Sant'Anna, da Coimex, acrescenta que o cozimento da carne de frango elimina a chance de contaminação. Além do temor da gripe aviária, outro fator que está contribuindo para a queda dos preços é a época do ano, tradicionalmente mais fraca em negócios. Fonte de um grande frigorífico exportador informa que houve queda de 10% no consumo na Europa neste início do ano, além do recuo que já se vê normalmente nesse período. Outra fonte de frigorífico exportador acrescenta que a demanda dos importadores é menor hoje porque o recuo no consumo a partir de outubro gerou estoques no mercado europeu. No Oriente Médio, os importadores reduziram as compras prevendo menor consumo após casos de gripe aviária no Kuwait, no fim de 2005. O resultado foi uma desvalorização de 20% nas cotações do frango inteiro na exportação ante outubro, para US$ 1.000 FOB por tonelada, segundo a Comexport. Pelos dados da Coimex, a tonelada saiu de US$ 1.350 a US$ 1.500 no fim de setembro passado para US$ 1.000 a 1.100 atualmente. A gripe aviária também aumenta a pressão dos importadores, que tentam derrubar as cotações mesmo quando não houve queda de consumo. É o caso do Japão, onde a tonelada de coxa saiu de US$ 2.300 CIF em outubro para US$ 1.900 hoje, conforme a Comexport. Ricardo Gonçalves, presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (Abef), reconhece que há uma pressão sobre as cotações em decorrência da redução de consumo em algumas regiões. Mas não acredita em quedas significativas. Ele observa ainda que a valorização dos preços do frango entre 2004 e 2005 já foi grande - 16,4% - por isso não há expectativa de ganhos tão expressivos este ano. "Não é preocupante ainda", comenta. De qualquer forma, a retração dos consumidores de países importadores já acendeu a luz amarela para o setor produtivo no Brasil, onde a produção de frango só faz crescer, em grande medida por causa do avanço das exportações. "Essa situação vai exigir que o setor reordene a produção", defende José Carlos Godoy, da Apinco. Até novembro de 2005, a produção brasileira de carne de frango alcançou 8,464 milhões de toneladas, 11,13% mais que em igual período em 2004.