Título: DI se protege de corte de um ponto na Selic
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 13/01/2006, Finanças, p. C2

O pregão de DI futuro da BM&F, recinto no qual os bancos fazem suas apostas sobre as próximas decisões de política monetária, viveu ontem um dos dias mais agitados dos últimos meses. A correria de última hora, destinada a evitar perdas caso o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decida, na próxima quarta-feira, derrubar a Selic de forma mais vigorosa que o movimento consensual de 0,75 ponto antevisto pelos economistas, teve origem em forte rumor surgido à tarde. O comentário foi de que o presidente Lula já avisou ao ministro Antonio Palocci que se o Copom não cortar a taxa em um ponto o presidente do BC, Henrique Meirelles, será afastado. E coube, segundo o rumor, ao vice-presidente José Alencar a missão de comunicar a Meirelles a decisão presidencial. Na dúvida sobre a veracidade do boato, as instituições se cercaram contra qualquer imprevisto. E o volume de negócios com o contrato mais curto, para a virada do mês, disparou. O giro financeiro saltou de já elevados R$ 17,2 bilhões da véspera para recordes R$ 50,07 bilhões. A projeção caiu de 17,56% para 17,53%, sem refletir o suposto corte presidencial de um ponto. Mas as inversões de ponta em contratos mais distantes cobrem essa possibilidade, de tal forma que o prejuízo de curto prazo é compensado pelo ganho de longo. O rumor pode ser apenas uma estratégia utilizada por "comprados" em pré para melhorar os seus lucros. Mas não foi descartado como invenção delirante. Como os bancos já estão preparados para um corte de 0,75 ponto, baixa 0,25 ponto maior do que esta seria perfeitamente tolerável. Sobretudo porque o 0,75 ponto não representa uma audácia capaz de redimir o passado conservador do BC. Feitas as contas, para um ano com oito reuniões do Copom, o ritmo de 0,75 ponto proporciona a mesma redução total que o compasso de 0,50 ponto acumularia em ano de 12 reuniões. Em ambos os casos, o saldo é o mesmo: seis pontos percentuais. O rumor pode servir aos que querem um reaperto monetário: a manutenção do ritmo de 0,50 ponto de queda instaurado na reunião de outubro do Copom irá aumentar o arrocho já que a quantidade de reuniões em 2006 foi reduzida em quatro. Como o BC zela, acima de tudo, pela preservação de sua credibilidade, para que sua decisão não seja interpretada como tendo inspiração política a tendência é de agir, nesses casos, mais conservadoramente do que comumente faz. Se o Copom cortar a taxa em um ponto, mesmo que a opção tenha legitimidade técnica, passará a impressão de ter decidido sobre pressão. Nessa hipótese, a possibilidade de mudanças na diretoria do BC torna-se efetiva.

Volume de negócios dispara na BM&F

Os comentários sobre perda de autonomia do BC afetaram também o comportamento do mercado secundário de títulos da dívida externa e o de ações. A Bovespa chegou, de manhã, a subir 0,93%, com o índice já acima de 36 mil pontos, mas o cheiro de crise inverteu a tendência. E o índice fechou em queda de 0,48%, a 35.779 pontos. E o risco-país avançou 10 pontos, para 287 pontos-base. O mercado de câmbio permaneceu a maior parte do dia imune aos comentários. Uma queda mais acentuada da Selic provocaria fuga de investidores estrangeiros "vendidos" em dólar, o que puxaria a cotação para cima. Mas a moeda fechou em baixa de 0,83%, cotada a R$ 2,2650. Os dois leilões feitos pelo BC não seguraram a queda. Vendeu 8,6 mil da oferta total de 8,8 mil contratos de swap cambial reverso e, à tarde, comprou dólares por R$ 2,2645.